Campo Grande é a segunda cidade do país a participar da estratégia do Ministério da Saúde, que utiliza uma bactéria para reduzir a capacidade do mosquito Aedes aegypti de transmitir o vírus da dengue, zika e chikungunya. O Termo de Cooperação entre Ministério da Saúde, Fiocruz e secretarias de Saúde do Estado e do município, que formaliza a participação do município no “Método Wolbachia”, foi assinado na manhã desta segunda-feira (17) pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, durante abertura do “Encontro Estadual de Vigilância em Saúde: integração, vigilância, e Atenção Primária”, que acontece no Centro de Convenções Rubens Gil de Camilo, na Capital.
“A Wolbachia é uma tecnologia do SUS. Os primeiros testes foram realizados em Niterói (RJ) e, após os bons resultados, decidimos expandir para outras regiões de diferentes biomas, como Campo Grande. O Ministério da Saúde tem aportado recursos e mudou sua linha de pesquisa. Agora as pesquisas financiadas partem dos problemas que afetam a população e o SUS, a exemplo de soluções para doenças como dengue, malária e leishmaniose”, destacou o ministro Luiz Henrique Mandetta.
O Termo de Cooperação irá definir as responsabilidades de cada ente envolvido (Ministério da Saúde, Fiocruz e secretarias de saúde). O Ministério da Saúde elaborou, ainda, o Procedimento Operacional Padrão, documento que descreve as atividades a serem realizadas para expansão da pesquisa nas cidades definidas para o projeto.
Para apoiar o projeto, cerca de 2.500 profissionais de saúde, entre agentes de endemias e agentes comunitários de saúde, estão sendo capacitados entre os dias 17 e 18 de fevereiro e vão atuar nas ações de vigilância, incluindo a mobilização da população nesta nova estratégia.
Petrolina/PE e Belo Horizonte/MG serão as próximas cidades a participarem do Método Wolbachia. Inclusive, estão previstas reuniões de planejamento para o desenvolvimento projeto no município de Petrolina de 3 a 5 março.
Etapas de implantação
A implantação do método Wolbachia no município será feita de forma gradativa. Campo Grande foi dividida em seis áreas de atuação, sendo que na primeira área estão incluídos sete bairros: Guanandi, Centenário, Lageado, Coophavila II, Tijuca, Batistão e Aero Rancho.
Os agentes de saúde da primeira área já foram capacitados para começarem as atividades de engajamento comunitário dessa região, que inclui a conscientização da população sobre a importância do combate ao mosquito Aedes aegypti. Depois, será realizada avaliação da população quanto à aceitação do projeto. Somente após essa etapa é que se inicia a soltura dos mosquitos com a bactéria Wolbachia. Depois, é necessário monitorar a presença desses mosquitos na região, capturando alguns para avaliarem a presença da bactéria.
O Laboratório Central de Mato Grosso do Sul (Lacen) irá receber o ovo do mosquito com a bactéria Wolbachia, produzido na Fiocruz. Serão realizados envios semanais para que técnicos do Lacen coloquem esses ovos para eclosão. Depois de adultos, esses mosquitos são soltos.
Bactéria
A Wolbachia é uma bactéria intracelular presente em 60% dos insetos da natureza, mas que não está presente no Aedes aegypti. Quando presente no mosquito, ela impede que os vírus da dengue, zika e chikungunya se desenvolvam dentro do mosquito, contribuindo para redução destas doenças. Não há modificação genética nem no mosquito, nem na bactéria. Na prática, o método consiste na liberação de Aedes aegypti com a Wolbachia para que se reproduzam com os Aedes aegypti locais e gerem uma nova população destes mosquitos, todos com Wolbachia.
Atualmente, o Método Wolbachia é implementado em 12 países: Austrália, Brasil, México, Colômbia, Indonésia, Vietnã, Sri Lanka, Índia, Fiji, Nova Caledônia, Vanuatu e Kiribati. Os resultados preliminares do World Mosquito Program, responsável pelo método, apontam redução dos casos de dengue no Vietnã, Indonésia e na Austrália, e dos casos de chikungunya em Niterói, no Rio de Janeiro, onde os mosquitos com Wolbachia começaram a ser liberados em larga escala em 2016.
Tecnologia
No mesmo ato o município formalizou a adesão ao projeto estadual e-Visita Endemias, com distribuição (simbólica) de cinco aparelhos celulares para o monitoramento dos criadouros de mosquitos, sendo que, no total, Campo Grande receberá 600 aparelhos.
O aplicativo E-visita é utilizado para monitorar e registrar informações das visitas que fazem às residências.
Com ele, em vez de fazer anotações no papel, o profissional, registra no aplicativo todas as condições encontradas, podendo, se necessário, tira fotos e enviá-las via on-line, para o Município ou Estado. Desta forma, os gestores podem tomar decisões e providências de forma mais rápida e eficiente.
Dados epidemiológicos
Segundo informação da Coordenadoria de Vigilância Epidemiológica, até o dia 11 de fevereiro foram notificados 3.277 casos de dengue em Campo Grande, sendo que 126 deles foram confirmados. Essas notificações fizeram com que o secretário José Mauro oficializasse a situação epidêmica provocada pela dengue.
O número de óbitos provocados pela doença também subiu, sendo três registrados no Município, de um homem de 30 anos, uma senhora de 74 e uma criança de 9 anos de idade.
Foram registradas 34 notificações de Zika Vírus e 17 de Chikungunya, que ainda estão passando por processo de avaliação laboratorial para confirmar ou não as suspeitas.
Durante todo o ano de 2019, foram registrados 39.417 casos notificados de dengue em Campo Grande, sendo 19.647 confirmados e oito óbitos.
Infestação pelo Aedes
Conforme o Levantamento Rápido de Índices de Infestação pelo o Aedes aegypti (LIRAa), sete áreas de Campo Grande foram classificadas com o risco de surto de doenças transmitidas pelo mosquito.
O número de áreas em alerta praticamente dobrou, em comparação com o último LiRaa divulgado em novembro do ano passado, passando de 22 para 42 áreas. Dezoito áreas permanecem com índices satisfatórios.
O índice mais alto foi detectado na área de abrangência da USF Iracy Coelho, com 8,6% de infestação. Isso significa que de 233 imóveis vistoriados, em 20 foram encontrados depósitos. A área da USF Azaleia aparece em segundo com 7,4% de infestação, seguido da USF Jardim Antártica, 5,2%, USF Alves Pereira, 4,8, USF Sírio Libanês, 4,4%, Jardim Noroeste, 4,2% e USF Maria Aparecida Pedrossian (MAPE), 4,0%.