Presidente reclama de que violações sejam julgadas com diferentes critérios de acordo com ideologia
O presidente do Chile, Gabriel Boric, criticou nesta terça-feira (24) a falta de uma posição conjunta de repúdio a violações de Direitos Humanos em países como a Venezuela, a Nicarágua e a Rússia.
A queixa foi feita em um evento de Defesa da Democracia e Combate ao Extremismo organizado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, à margem da 79ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York.
“As violações aos Direitos Humanos não podem ser julgadas de acordo com o pensamento do ditador da vez, ou do presidente que os viole, seja o [primeiro-ministro de Israel Benjamin] Netanyahu ou Nicolás Maduro na Venezuela, seja [Daniel] Ortega na Nicarágua ou Vladimir Putin na Rússia. Autodefinam-se de esquerda ou de direita”, queixou-se Boric.
O presidente chileno pediu que os países progressistas adotem uma posição conjunta de repúdio a esses crimes. “Tem certas questões que são avanços civilizatórios em que temos que ter uma só postura sem dois pesos e duas medidas”, expressou.
“As forças progressistas se veem debilitadas quando, diante de determinados conflitos, adquirem posturas titubeantes ou em função de interesses e defesa de amizades mal entendidas (sic) e ideologias políticas, em vez de princípios”, questionou Boric.
O chefe de Estado chileno chegou a citar o ataque aos Três Poderes da República, em 8/1 do ano passado, e a invasão ao Capitólio nos Estados Unidos, que atribuiu aos ex-presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump, respectivamente.
“A direita em muitos dos nossos países duvidou inicialmente se condenava ou não essas tentativas [de golpe de Estado], e quando o fez, em muitos lugares, foi ambígua”, disse, afirmando que este setor se justificava na premissa de que não havia condenação à violação da democracia ou dos direitos humanos pela esquerda.
Segundo Boric, a esquerda “não tem a mesma vara para julgar” quem se supõe que está do seu lado. “Isso aconteceu muito conosco na América Latina e nos prejudicou muito, conversamos muito disso com o presidente Lula, como a venezuelização ou a questão da Venezuela prejudicou muito o crescimento das esquerdas”, afirmou.
Esta não é a primeira vez que Boric se posiciona contra a falta de repúdio de países como o Brasil a violações aos direitos humanos na Venezuela. Em maio, quando o presidente Lula organizou e sediou uma cúpula de países sul-americanos em Brasília, o chileno esteve presente e criticou abertamente uma fala do brasileiro de que havia uma “narrativa” contra Maduro.
“Manifestei respeitosamente que tinha uma discrepância com o que o presidente Lula disse”, disse, afirmando que o desrespeito aos direitos humanos na Venezuela “não é uma construção narrativa, é uma realidade, é séria e tive a oportunidade de vê-la nos olhos e na dor de centenas de milhares de venezuelanos que estão em nossa pátria”.
Na ocasião, Boric disse que os países não deveriam “fazer vista grossa” das violações cometidas na Venezuela “independente da ideologia política do governante da vez”.
Alusão a Milei
Em seu discurso nesta terça em Nova York, Boric também aludiu ao presidente argentino Javier Milei, sem citar seu nome. Segundo ele, o assessor político Steve Bannon conseguiu que a ultradireita tivesse uma coordenação “muito superior” à da esquerda, a ponto de que “presidentes vão a países e não se reúnem com seus homólogos, mas se reúnem com líderes de ultradireita”.
Milei esteve tanto no Brasil como na Espanha e não se reuniu com governantes dos países, mas sim com líderes da direita local. “Não digo que nos comportemos como eles, não somos como eles, mas precisamos ter maior coordenação”, disse Boric, que propôs uma cúpula de líderes e partidos “progressistas” no Chile.
- fonte: CNN