Carnes, feijão, óleo de soja, frutas, leite, óleo diesel e etanol estão entre as principais reduções de preços no mês passado
Campo Grande apresentou deflação no índice oficial do mês passado, após oito meses em alta e com o menor resultado para junho desde 2017. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) da Capital foi a -0,14% em junho, queda mais acentuada que a média nacional, que caiu 0,08%.
Entre os nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os alimentos e bebidas puxaram o IPCA para baixo. O grupo apresentou queda de 1,05% no mês passado. Destaque para a queda do feijão (-14,12%), do óleo de soja (-9,76%), do tomate (-5,84), das carnes (-3,68) e do leite longa vida (-2,46%).
O grupo habitação recuou 0,14%, com redução principalmente no gás de botijão (-4,62) e na energia elétrica (-1,04). Ainda entre os impactos da deflação, o grupo transportes foi a -0,03%, com queda nos preços do óleo diesel (-6,95%), do etanol (-6,41%) e da gasolina (-0,28%).
Entre os alimentos que tiveram redução nos preços, o óleo de soja, que chegou a custar mais de R$ 10, variava entre R$ 4,89 e R$ 5,59 na tarde de ontem. Outro exemplo é um quilo de alcatra, que, conforme pesquisa do Correio do Estado, custava R$ 48,98 em junho de 2022 e nesta terça-feira era comercializado a R$ 33,99.
“Alimentação e bebidas e transportes são os grupos mais pesados dentro da cesta de consumo das famílias. Juntos, eles representam cerca de 42% do IPCA. Assim, a queda nos preços desses dois grupos foi o que mais contribuiu para esse resultado de deflação no mês de junho”, explica André Almeida, analista da pesquisa.
Ainda segundo o analista do IBGE, nos últimos meses, a queda dos preços dos grãos também impactou na deflação. “Isso impactou diretamente o preço do óleo de soja e indiretamente os preços das carnes e do leite, por exemplo. Essas commodities são insumos para a ração animal, e um preço mais baixo contribui para reduzir os custos de produção. No caso do leite, há também uma maior oferta no mercado”, detalha Almeida.
CONSUMIDORES
Alguns consumidores confirmam que, na prática, já é possível notar uma diferença nos preços na hora de fazer mercado. Responsável pelas compras de supermercado em sua residência, a autônoma Vera Lúcia Furini da Silva relata à reportagem, que, em suas idas e vindas ao mercado, sentiu uma queda em alguns produtos que costuma consumir.
“A minha impressão é de que deu uma melhorada, sim. Inclusive, já dá para sentir no bolso uma boa diferença. A carne mesmo é uma das que pouco a pouco melhorou bastante” ressalta.
Otimista, a manicure Jeane Bispo de Souza revela que já consegue até levar um pouco mais de carne bovina na hora da compra, visto que os preços melhoraram significativamente. “Carne, óleo, feijão e até tomate já consigo achar com valor menor. Quando está mais caro é R$ 5 ou R$ 6. Já cheguei a pagar R$ 11”, evidencia.
Para a professora Márcia Ottoni, houve um equilíbrio no quesito preço, uma vez que para ela alguns produtos apresentaram queda, enquanto outros seguem com valores elevados. “O tomate é um produto que faz tempo que anda caro, para ele não vi queda”, aponta. Contudo, ela salienta que, mesmo em pequena escala, a carne bovina é um item que apresentou diminuição nos preços para o consumidor.
Outros consumidores dizem que a deflação ainda não fez diferença na hora das compras. A administradora Flávia Brito afirma que não observou queda nos preços dos alimentos. “Pelo contrário, acho que tudo subiu, não senti melhora alguma, tudo muito caro”.
Aposentada, Lacy Severo avalia como insignificante o recuo da carne bovina. “Eu achei que não baixou, não vi diferença. Agora, o tomate está caro”, indica a consumidora, que acrescenta que, quanto ao óleo de soja, identificou uma melhora no preço.
O economista Marcio Coutinho explica que a inflação, principalmente dos alimentos, é diferente para cada consumidor, e por isso as opiniões divergem.
“A inflação é uma média de preços de uma determinada cesta, e muitas vezes nós não sentimos muito o impacto no dia a dia. Porque os hábitos de consumo são diferentes, nem todo mundo tem o mesmo hábito, por isso a inflação acaba não sendo igual para todo mundo”, afirma Coutinho.
Além dos grupos já citados, os artigos de residência também registraram queda de 0,76% em junho. As altas para o mês foram aferidas nos grupos vestuário (1,06%), saúde e cuidados pessoais (0,58%), despesas pessoais (0,21%), educação (0,09%) e comunicação (0,02%).
O mestre em economia Eugênio Pavão diz que as altas registradas são principalmente por redução de oferta. “A inflação de demanda não está sendo a principal causa das altas de preços. Não é o consumo que está aquecido, mas, sim, inflação de oferta e renda estagnada”.
TAXA SELIC
Em pouco mais de duas semanas, nos dias 1º e 2 de agosto, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) se reúne para definir os rumos da taxa básica de juros, a Selic. Conforme reportagem do Estadão, o mercado já dá como certo que a Selic vá começar a cair nessa reunião, e essa deflação em junho deve corroborar essas apostas.
A taxa de juros se mantém a 13,75% com o objetivo, principalmente, de frear a inflação. “Obviamente isso pode influenciar na queda da Selic, porque a redução [dos juros] está alinhada com a deflação. O governo fica monitorando, e se a inflação continuar em queda, a tendência é que a taxa de juros também reduza”, conclui Marcio Coutinho.
O mestre em economia Eugênio Pavão avalia que as altas taxas de juros desestimulam os investimentos. “A política de juros visa esfriar o consumo, mas está levando a um quadro recessivo, com baixos investimentos, baixo emprego, baixa renda, menor arrecadação para governo, é um tiro pela culatra”.
A projeção de analistas ouvidos pelo BC no Boletim Focus, divulgado no início da semana, já aponta para um maior otimismo. A projeção da taxa Selic para o fim deste ano saiu de 12,25%, na mediana publicada em janeiro, para 12% nas últimas semanas.
Já a previsão para o PIB era de um crescimento de 0,8% para 2023 no boletim do início de janeiro. Na segunda-feira, o número estava em 2,18%, conforme o relatório do BC. E a estimativa para a inflação no primeiro mês do ano era de 5,31%, enquanto nesta semana caiu a 4,95%.
Foto: Reprodução Correio do Estado
Fonte: Correio do Estado