Capital se mantém com a maior inflação do País, o dobro da taxa nacional

No primeiro mês de 2021, a inflação de Campo Grande continua superando a média brasileira. 

Em janeiro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de 0,53% na Capital, o dobro da média brasileira, que foi de 0,25%. 

A inflação oficial, medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi puxada principalmente pelo aumento da gasolina (2,42%) e da taxa de água e esgoto (4,90%).  

Apesar de continuar inflacionado, o índice recuou 0,98 ponto percentual (p.p.) no comparativo com a taxa registrada em dezembro (1,51%). 

Mesmo assim, é a oitava alta consecutiva do índice em Campo Grande, a maior entre os locais pesquisados no País. Nos últimos 12 meses, o indicador acumula alta de 7,28% na Capital, enquanto a taxa nacional foi de 4,56%.

De acordo com os economistas, são vários fatores que influenciam na inflação de janeiro. 

Entre eles: o aumento constante dos preços dos combustíveis, a valorização do dólar frente ao real, o aumento da demanda por produtos brasileiros no mercado internacional, com consequente redução da oferta local, e ainda a alta no consumo com a injeção do 13° salário na economia.  

Para a economista do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Fecomércio-MS (IPF-MS), Daniela Dias, além do aumento da gasolina, que impacta diretamente na vida de muitos consumidores, o aumento do diesel também impacta no bolso. 

Este ano, a Petrobras já anunciou três reajustes no preço da gasolina e dois no do diesel, que acumulam alta de 22% e 10% respectivamente.  

“Essa crescente [da inflação] tem uma relação com os combustíveis, visto que o preço do petróleo é ditado pelo mercado internacional. 

A gente usa bastante o transporte rodoviário, e tem repasse para o diesel, consequentemente para o setor supermercadista, então automaticamente os preços dos alimentos, que já estão em alta significativa, tendem a ficar ainda mais caros”, considera Daniela.

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A economista diz ainda que o aumento das exportações, a alta demanda e a baixa oferta, e ainda a desvalorização do real também influenciam nos preços aqui praticados.

 “O mundo tem demandado mais alimentos e, consequentemente, as nossas exportações estão mais atrativas, justamente porque o real está desvalorizado. Nós temos mandado muitos dos nossos produtos para outros países. 

Então a gente tem algum impacto interno, seja na questão da própria oferta, seja na questão dos preços. E ainda temos muitos produtos e insumos que são importados, ou seja, o custo se torna maior e o produtor e as indústrias têm de repassar isso, que acaba chegando ao consumidor. Tudo isso acaba interferindo nessas altas de preços”, ressalta Daniela.

O doutor em economia Michel Constantino destaca ainda a tendência natural de gastos maiores no período do fim do ano. 

“No fim do ano as pessoas gastam mais e a demanda aumenta, porque recebem 13º e muitos saem de férias. A propensão a consumir é maior, e com as pessoas gastando mais a inflação aumenta. O reflexo de dezembro vem para janeiro. A tendência geralmente é de inflação em dezembro e em janeiro. Em fevereiro, a tendência é cair um pouco mais”, analisa.  

A inflação mede o comportamento de preços por meio de uma série de produtos e serviços. 

Em Campo Grande, dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, oito tiveram alta em janeiro. 

A maior variação veio da habitação (1,36%), seguida de artigos de residência (0,84%), despesas pessoais (0,79%), alimentação e bebidas (0,63%), transportes (0,30%), vestuário (0,29%) e educação (0,08%).

O único que registrou queda em janeiro foi o grupo de comunicação (0,22%), e há ainda a estabilidade do grupo de saúde e cuidados pessoais (0,00%).  

Os economistas alertam que o poder de compra do morador de Campo Grande continua sendo menor que o do restante do País. 

“O impacto sobre a vida das pessoas é realmente no bolso, se o combustível continua subindo e os alimentos continuam encarecendo, significa que existe uma redução do poder de compra das pessoas. Significa que as pessoas vão ter de reservar um pouco mais de recursos para fazer as mesmas coisas. 

Aí novamente temos uma necessidade de fazer priorizações, fazer contas do quanto se ganha e do quanto se gasta. E priorizar os itens essenciais, fazer trocas, mas tudo isso vai depender do salário”, explica Daniela.

Constantino ainda ressalta que a principal dica para “driblar” a inflação é o equilíbrio financeiro. 

“Se as pessoas não conseguiram aumentar os seus ganhos nesse período, elas precisam diminuir seus gastos para equilibrar.

 Por exemplo, se a pessoa utiliza o automóvel para trabalhar e precisa continuar abastecendo com gasolina ou diesel, ela vai ter de diminuir outros tipos de consumo, como entretenimento ou serviços, para equilibrar essas contas”, conclui.  

A economista Daniela Dias acredita que, com as consecutivas altas de preços, é cada vez mais difícil suprir as necessidades básicas, considerando o salário mínimo.

 “O que significa que as pessoas vão precisar priorizar ainda mais, substituir ainda mais, porque realmente o cenário deve permanecer assim neste ano. 

Tem muitas variáveis que a gente não tem necessariamente controle, como o próprio câmbio, o avanço da vacinação, e, se existem incertezas, as projeções continuam sendo de desvalorização do real. É todo um efeito em cadeia, mas significa realmente continuar perdendo o poder de compra das famílias”, finaliza.  

  • Fonte: Correio do Estado