Em discurso, presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e da Câmara, Hugo Motta, enfatizam que as prerrogativas do Parlamento devem ser respeitadas
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Na abertura do ano legislativo, nesta segunda-feira, os novos presidentes da Câmara e do Senado afinaram o discurso de independência entre os Poderes, em um recado ao Supremo Tribunal Federal (STF), acusado por parlamentares de interferir em prerrogativas do Congresso.
Os discursos ocorreram na esteira de atritos recentes entre Legislativo e Judiciário, especialmente no que diz respeito às emendas parlamentares. Os recursos, cuja destinação é definida por deputados e senadores, têm sido alvo de questionamentos no STF por falta de transparência e rastreabilidade.
Alcolumbre destacou a autonomia do Parlamento e defendeu o direito dos congressistas de direcionar investimentos para suas bases eleitorais.
“A recente controvérsia sobre emendas parlamentares ao Orçamento ilustra a necessidade de respeito mútuo e diálogo contínuo”, sustentou. “As decisões do Supremo Tribunal Federal devem ser respeitadas, mas é igualmente indispensável garantir que este Parlamento não seja cerceado em sua função primordial de legislar e representar os interesses do povo brasileiro.”
Atualmente, parlamentares controlam quase um quarto dos recursos disponíveis para investimentos do governo por meio das emendas, um mecanismo que ganhou força na última década e, em parte, tornou-se de execução obrigatória. Para Alcolumbre, as emendas são “indispensáveis à atividade parlamentar” e garantem investimentos em diferentes regiões do país.
O presidente do Senado reiterou que o Congresso é “a força motriz da democracia” e defendeu que as decisões sejam tomadas buscando o consenso. No entanto, ressaltou que, quando o entendimento não for possível, deve prevalecer a vontade da maioria, sem deixar de garantir o direito das minorias de manifestarem suas divergências. “O nosso Brasil precisa de união, de pacificação”, declarou. “Precisamos de um Legislativo forte, atuante e respeitado.”
Hugo Motta também falou em respeito às atribuições de cada instituição. “O trabalho conjunto dos Três Poderes está no cerne do regime político do país”, afirmou, ressaltando que a colaboração entre Executivo, Legislativo e Judiciário deve sempre ser pautada pelo interesse público.
A harmonia entre as instituições, segundo ele, passa pelo respeito às competências de cada Poder e pela manutenção de um ambiente político estável.
“Estamos iniciando o ano com a convicção de que o Brasil está no caminho certo. Avançamos muito na direção da estabilidade jurídica e econômica, indispensável ao crescimento sustentável do país”, declarou.
O novo presidente também frisou a necessidade de uma relação produtiva com o Senado, enfatizando que as duas Casas Legislativas devem atuar em conjunto para “buscar o melhor para o país”.
Guerra dos bonés
A sessão no Congresso foi marcada por uma guerra dos bonés, entre oposição e apoiadores do governo. Do lado favorável ao Palácio do Planalto, usaram o item com a frase: “O Brasil é dos brasileiros”, em alusão ao famoso chapéu vermelho do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que dizia Make America great again”. A ideia do slogan teria sido do ministro da Secretaria de Comunicação Social do governo, Sidônio Palmeira, como uma resposta silenciosa a parlamentares bolsonaristas que usam o boné do líder republicano.
Já parlamentares da oposição exibiam bonés com a frase “Comida barata novamente. Bolsonaro 2026”. Eles também gritavam: “Lula, cadê você? O povo tem fome e não tem o que comer”. O grupo também mostrou embalagens de picanha com imagem do rosto do ex-presidente, classificando o produto como “black”, termo usado para cortes bovinos de alta qualidade. Já a imagem de Lula estampava uma embalagem de café com a escrita “nem picanha, nem café”, em referência aos preços elevados dos dois itens.
“(O boné) dá um destaque a algo que obviamente preocupa a todos os brasileiros, e é óbvio que quem representa os brasileiros não pode ignorar a questão grave da inflação e da comida cara. Essa foi uma forma de a gente protestar”, afirmou o deputado Domingos Sávio (PL-MG).
A ação foi uma resposta aos bonés azuis e amarelos usados no último sábado pelos apoiadores do governo, durante a votação para as presidências do Senado e da Câmara.
“Essa disputa de bonés começou com uma afirmação que era necessária ser feita. Ao invés de um boné vermelho, em inglês, é melhor para todos nós um boné com nossas cores, dizendo que o Brasil pertence aos brasileiros. Então, eu acho pouco original o deles”, comentou o senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), que usava novamente o item.
Fonte: Correio Braziliense