Doenças transmitidas pelo Aedes aegypti crescem 46% no Estado

Neste ano, calor extremo alternado com períodos de chuva podem ter contribuído para o aumento de infecções virais de dengue, zika e chikungunya em Mato Grosso do Sul

Doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, como dengue, zika e chikungunya, registram um aumento de 46,11% de casos em comparação ao ano passado. De acordo com os boletins epidemiológicos publicados pela Secretaria de Estado de Saúde (SES), em 2022 ocorreram 27.115 casos das três doenças, enquanto neste ano foram 50.324 ocorrências.

A médica infectologista Priscila Alexandrino explica ao Correio do Estado que o calor extremo e as pancadas de chuva que marcaram o ano podem ter aumentado o número de criadouros do Aedes aegypti no Estado.

“A gente tem mais Aedes infectado, então mais pessoas infectadas. Então, além de ter mais [mosquitos] suscetíveis, quando há a introdução de um novo subtipo em uma área específica, a gente acaba tendo um aumento do número de casos”, argumenta Priscila.

Neste ano, foram registradas condições atípicas em virtude do El Niño, fenômeno que causou recordes de temperaturas alternados com alertas de tempestades perigosas em Mato Grosso do Sul.

A infectologista esclarece que os mosquitos podem procriar em locais antigos, e isso pode ser determinante para o aumento dos casos mesmo em períodos de estiagem, que diminuem a formação de novos criadouros de mosquitos da dengue em locais com água parada.

“Nós vemos a perpetuação dos criadouros, que muito provavelmente são peridomiciliares [no entorno dos imóveis], e continuamos tendo focos do vetor. Portanto, um aumento no número de casos”, aponta.
Neste ano, já foi registrado o maior número de casos de zika desde 2016: 134 pessoas infectadas com a doença. Sete anos atrás, esse número chegou a 1.825 casos. No entanto, no período entre as duas datas, o total anual ficou entre 32 e 130 registros.

Em relação à chikungunya, foram registrados 3.291 casos, o maior número da série histórica, iniciada em 2014. No ano passado, foram 608 infecções, o segundo maior número.

A dengue é a doença mais frequente em Mato Grosso do Sul e teve 46.899 ocorrências neste ano. Esse é o maior número de casos desde 2020, quando ocorreram 52.997 diagnósticos.

DOENÇA SAZONAL

As enfermidades transmitidas pelo Aedes aegypti são consideradas sazonais, ou seja, são registrados mais casos em períodos específicos do ano. Contudo, neste ano, é possível perceber, por meio dos dados disponibilizados pela SES, infecções em todos os meses.

De acordo com o infectologista Henrique Domingues Valero, com os casos sendo registrados durante o ano inteiro, e não somente em épocas de chuva, tais doenças deixaram de ser consideradas sazonais.
“A dengue deixou de ser uma doença sazonal. É comum o ano inteiro, mas na época de chuva esses casos podem aumentar. Por isso nossa preocupação com o período”, explica.

Priscila complementa que as doenças de fato têm sido diagnosticadas o ano todo, mas que nos períodos chuvosos ainda há aumento de infecções. “Na verdade, a gente vê dengue o ano inteiro. A gente vê um aumento do número de casos em épocas epidêmicas, na fase das chuvas, janeiro, fevereiro e março, que normalmente nós vemos um aumento do número de casos, mas nós temos casos o ano inteiro”, pondera.

De acordo com o boletim epidemiológico da SES, 46.736 pessoas foram diagnosticadas com dengue entre os dias 1º de janeiro e 11 de novembro em Mato Grosso do Sul. Conforme os dados da secretaria, outubro foi o único mês em que ainda não foram notificadas mortes pela doença. Nos demais meses, a média é de três notificações mensais, com pessoas entre 14 e 92 anos.

VACINAS

Atualmente, não há no Brasil um medicamento específico para combater os vírus da dengue, da zika e da chikungunya no organismo humano. O tratamento envolve a diminuição dos sintomas com medicamentos como paracetamol e dipirona.

Também ainda não existe no Sistema Único de Saúde (SUS) nenhuma vacina contra os três vírus. Portanto, as medidas mais comuns são as de combate ao mosquito Aedes aegypti, o principal transmissor da dengue, da chikungunya e da zika, evitando água parada nos quintais e em espaços públicos, por exemplo.

No entanto, recentemente, um antiviral para a dengue desenvolvido pela Janssen demonstrou pela primeira vez um efeito contra o vírus em testes clínicos em humanos. Além disso, foi seguro 
e bem tolerado.

A diretora-executiva da farmacêutica Takeda, Vivian Lee, afirmou que a vacina contra 
a dengue desenvolvida pela empresa aguarda resposta da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) sobre a incorporação do imunizante ao sistema público até janeiro do ano que vem, com prazo prorrogável para abril de 2024.

Outra vacina sendo produzida é uma contra a chikungunya, que até foi aprovada na semana passada nos EUA para uso em adultos. A vacina é estudada pela primeira vez em um país em que a doença é considerada endêmica. Ao todo, 750 adolescentes participam da fase três do ensaio clínico brasileiro.

No Brasil, o ensaio clínico liderado pelo Instituto Butantan reuniu jovens de 12 a 17 anos que vivem em áreas endêmicas das cidades de São Paulo (SP), São José do Rio Preto (SP), Salvador (BA), Fortaleza (CE), Belo Horizonte (MG), Laranjeiras (SE), Recife (PE), Manaus (AM), Boa Vista (RR) e Campo Grande.

A vacina contra a chikungunya desenvolvida pelo Butantan e pela empresa franco-austríaca Valneva produziu anticorpos neutralizantes em 98,8% dos adolescentes que participaram do teste clínico.

O estudo ainda identificou que o imunizante é seguro, não apresenta pontos de preocupação e tem reações adversas que variam de leves a moderadas, como sensibilidade no local da injeção, dor de cabeça, febre e fadiga.

O Instituto Butantan quer submeter os resultados obtidos à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no primeiro semestre de 2024, a fim de pedir autorização para que o produto possa ser usado em território brasileiro.

SAIBA

De acordo com a SES, os números de casos e mortes de dengue já superam os registros dos últimos dois anos, com cerca de 146 diagnósticos por dia, seis a cada hora. O total de mortes chegou a 40.


Foto: Gerson Oliveira
Fonte: Correio do Estado