Após encostar em R$ 5,70 nesta terça-feira (2), o dólar perdeu fôlego ao longo da tarde e devolveu maior parte dos ganhos, fechando com alta próxima de 0,2%.
A divisa disparou durante a manhã, à medida que os investidores repercutiam novos ataques do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Banco Central (BC) e suas promessas de controlar a alta da divisa norte-americana.
A segunda sessão de julho encerrou com o dólar subindo 0,22%, negociado a R$ 5,666 na venda, se mantendo nas máximas do governo Lula e desde janeiro de 2022.
Em 2024, a divisa já acumula elevação de 16,8%.
O Ibovespa fechou no campo positivo pelo segundo dia seguido, apesar de ficar próximo da estabilidade, com alta de 0,06%, aos 124.787 pontos — o maior patamar desde o fim de maio — favorecido pelo avanço nos pregões em Wall Street e queda nos rendimentos dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos,
Antes da abertura do mercado nesta terça-feira, em entrevista à rádio Sociedade, de Salvador, Lula disse que fará “alguma coisa” em relação à alta do dólar ante o real, mas evitou detalhar qual medida será tomada “porque senão estarei alertando meus adversários”.
Lula afirmou que há atualmente um ataque especulativo ao real, acrescentando que voltará a Brasília na quarta-feira (3) e discutirá o que fazer em relação à alta do dólar.
Ele também voltou a criticar o Banco Central, dizendo que a autarquia não pode estar a serviço do sistema financeiro e do mercado.
Após o dólar abrir em baixa, a fala de Lula passou a pesar sobre os negócios ao longo da manhã e as cotações da moeda norte-americana ganharam força. Profissionais do mercado afirmaram que a possível intervenção do governo no câmbio gerava receios.
Uma das possibilidades levantadas é a de que o governo possa mexer no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nas operações cambiais, para segurar a escalada da moeda norte-americana.
Em Brasília, porém, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou no fim da manhã que não há possibilidade de o governo mexer no IOF. Segundo ele, a melhor maneira de conter a desvalorização do real é melhorar a comunicação sobre o arcabouço fiscal e a autonomia do BC.
Os comentários de Lula em relação ao BC nesta terça-feira somam-se às falas do presidente nos últimos dias, que vêm sendo apontadas como um dos principais motivos para que o dólar tenha disparado ante o real e para que a curva de juros esteja em forte alta no Brasil.
Em 2024, a moeda norte-americana acumula elevação próxima de 17%.
“Quem intervém no câmbio é o BC, não o ministério da Fazenda”, comentou Jefferson Rugik, diretor da Correparti Corretora. “O que o presidente Lula pode fazer no câmbio é tranquilizar o mercado, dizendo que vai cortar gastos. Quando o mercado acredita que o problema é de credibilidade, ações como alterar o IOF são momentâneas”, acrescentou.
Nos últimos dias, profissionais ouvidos pela Reuters têm afirmado que a acomodação do dólar ante o real passa justamente pelo fim dos ataques recorrentes de Lula ao BC e por medidas que equilibrem as contas públicas.
Alvo de Lula em suas declarações, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou durante a manhã que a autarquia tem que ficar fora da “arena política” e argumentou que o tempo mostrará que o trabalho da autoridade monetária é técnico.
“Há um prêmio de risco na curva (de juros), e ele tem sido elevado nas últimas semanas com a incerteza sobre o que acontecerá quando a próxima liderança, o próximo time (do BC) assumir”, acrescentou Campos Neto, que deixará o comando da instituição no fim de dezembro. Ele participou de evento do Banco Central Europeu (BCE) em Sintra, Portugal.
No exterior, o dólar passou a ceder ante uma cesta de moedas fortes, com o mercado avaliando declarações do chair do Federal Reserve, Jerome Powell, no mesmo evento em que Campos Neto falou. A moeda norte-americana também caía ante moedas como o peso mexicano e o peso chileno.
Fonte: CNN Brasil