Mais de 15 mil pessoas foram afetadas e 12 perderam suas vidas nas enchentes no Rio de Janeiro segundo prefeituras municipais do estado. O Rio Grande do Sul também está sofrendo com os alagamentos e entrou em estado de alerta após temporais. Os fenômenos são consequência do El Niño.
Originado do aquecimento exagerado das águas do Oceano Pacífico, o El Niño é um fenômeno atmosférico-oceânico que costuma trazer secas para o Norte e Nordeste do Brasil e chuvas para a região Sul.
O meteorologista Natálio Abraão Filho, declarou em entrevista ao Jornal da Hora desta quarta-feira (17), que neste ano o El Ninõ trará um longo período de estiagem para o Mato Grosso do Sul. Conforme ele, o fenômeno está chegando ao seu auge e depois irá entrar em uma zona de neutralidade, período quando o estado perceberá suas consequências.
Segundo Natálio Abraão Filho, as consequências do fenômeno serão um longo período de seca, e as baixas temperaturas no frio. O estado deverá ser afetado a partir dos dias 22 e 23 de março.
“O El Niño está atingindo seu pico e quanto mais elevada a temperatura maior a consequência. […] Ele deve perder força em março e entrar em zona de neutralidade e aí vem para o Mato Grosso do Sul. […] Teremos estiagem prolongada no final do verão, haverá uma redução das médias históricas de chuva. […] Então atenção, estiagem entre março e maio, e frio, muito intenso esse ano. Teremos um outono com muita dificuldade no campo”, destacou.
Como ocorre o fenômeno?
O professor explica que o aquecimento dos mares gera a vaporização das águas, que se deslocam para a América do Sul e geram grandes quantidades de chuva. Conforme ele, o fenômeno é uma consequência do aquecimento global.
“[O aquecimento do Oceano Pacífico] provoca uma evaporação além do normal e essa evaporação entra na circulação e vai atingir a América do Sul, restrita ali no extremo sul do Brasil trazendo as consequências que a gente chama de rios voadores. São as consequências que o aquecimento global que já está acima de um grau”
Desmatamento do Parque Dos Poderes
Na última segunda-feira (15), a juíza Elisabeth Rosa Baisch homologou o acordo judicial entre o Ministério Público Estadual e o Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul que visa o desmatamento de 186,5 mil metros quadrados do Parque dos Poderes.
Conforme o meteorologista Natálio Abraão, a vegetação e os lagos do parque ajudam a manter o conforto térmico de Campo Grande. Para ele, a evolução da cidade é essencial, mas precisa ser planejada.
“Tecnicamente isso [a vegetação e os lagos do parque] cria um cerco de proteção e estabilidade térmica. Então nós trabalhamos em manter o conforto térmico. Não sou contra o progresso, a cidade precisa evoluir, precisa ter mais atividade, mas o planejamento precisa ser feito adequadamente, mas que evite mexer nessas áreas”, destacou.
Segundo o meteorologista, Campo Grande é uma cidade com alto índice de vegetação, tendo seis árvores por habitante. Conforme Natálio Abraão, a redução desse número pode acarretar em consequências que serão sentidas nos períodos mais críticos do ano.
“Hoje nós temos seis árvores por habitante. Seis árvores por habitante. A cidade está crescendo, mas tem um alto índice de vegetação. […] Ao reduzir esse número de árvores você começa a ter preocupações, porque quanto mais retira a vegetação, mais o solo fica exposto e ele responde em em áreas e em épocas de chuvas, respostas mais agressivas” declarou.
Para Natálio, a derrubada das árvores pode afetar também as temperaturas da cidade, em decorrência da mudança da direção dos ventos. Conforme ele, em Campo Grande predominam os ventos no sentido leste-oeste e a vegetação do Parque dos Poderes atua como um radiador, amenizando as altas temperaturas.
Foto e texto por Reuel Olivera