Energia solar é alternativa para evitar racionamento

Fonte renovável é considerada mais adequada para garantir fornecimento de eletricidade em tempos de escassez de água.

Em meio ao cenário de escassez de chuvasa energia solar desponta como alternativa para garantir o suprimento de eletricidade, evitando assim o risco de racionamento. A avaliação foi feita pela vice-presidente de Geração Distribuída da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSolar), Bárbara Rubim, nesta quarta-feira (14/9/21). Ela participou de audiência pública da Comissão Extraordinária das Energias Renováveis e dos Recursos Hídricos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

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Segundo Bárbara Rubim, a energia solar é uma fonte resiliente aos eventos climáticos extremos e deveria ser utilizada em larga escala para minimizar os impactos da atual crise hídrica. “A melhor forma de poupar água é reservá-la para o abastecimento humano e a agricultura”, disse.

Além de preservar os reservatórios das hidrelétricas, a adoção da energia solar poderia reduzir a utilização das usinas termelétricas, que têm alto custo de operação. “O racionamento de energia já começou da maneira mais perversa, com aumento de preço”, disse Bárbara Rubim, referindo-se à bandeira tarifária de escassez hídrica. “O consumidor de baixa renda vai economizar porque não vai conseguir pagar a conta de luz”, completou.

Em 2020, o Brasil ampliou a capacidade instalada de geração de energia solar em 3,1 GW. Atualmente a potência instalada em todo o País é de 10,4 GW e Minas Gerais é o maior produtor nacional de energia solar, com 18,4% do total. “Se construirmos uma política pública voltada para o atual momento de crise, o setor vai responder, entregando mais projetos”, argumentou a representante da ABSolar.

Uma das diversas medidas tomadas pela Cemig para enfrentar a crise hídrica é justamente o investimento em energias renováveis. Segundo o diretor da Cemig Geração e Distribuição, Thadeu Carneiro da Silva, já está em andamento a licitação para aquisição dos equipamentos de uma usina solar flutuante na represa de Três Marias (Região Central). De acordo com ele, o impacto ambiental da estrutura é mínimo e sua instalação contribui para reduzir a evaporação do reservatório da hidrelétrica.

Inmet: é preciso estar preparado para o pior

Chuvas irregulares, secas pronunciadas e temperaturas cada vez mais altas compõem o panorama climático da Região Sudeste, conforme dados compilados pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

O coordenador do 5º Distrito de Meteorologia, Lizandro Gemiacki, apresentou estatísticas que evidenciam que o início das estações chuvosas tem tido atrasos nos últimos anos, o que significa estações secas mais prolongadas e menor volume de precipitação nos meses de outubro e novembro.

Além disso, os episódios de chuvas contínuas por dias seguidos, antes comuns na região, têm diminuído, dando lugar a pancadas intensas concentradas em poucos dias do ano, segundo o Inmet. Paralelamente, os chamados veranicos (quando para de chover em plena estação chuvosa) têm se tornado cada vez mais intensos.

“Pode acontecer qualquer coisa acima ou abaixo da média climatológica. A solução é estar preparado para os piores cenários”, disse Lizandro. Na sua avaliação, é preciso pensar estratégias de armazenamento de água, como barragens e barraginhas, para lidar com os períodos de escassez, que vêm se tornando cada vez mais comuns.

Barragem de Jequitaí à espera de recursos

No Norte de Minas, a região do Estado mais castigada pela seca, a Codevasf atua em três grandes frentes: revitalização do Rio São Francisco (com cercamento de nascentes e veredas e tratamento de esgoto); instalação de cisternas para aproveitamento da água da chuva; e construção de barragens. O reservatório mais importante em construção é o do Rio Jequitaí, que vai permitir a irrigação de 35 mil hectares. Porém, o projeto esbarra na falta de recursos.

A primeira etapa do empreendimento vai exigir investimentos da ordem de R$ 482,8 milhões. Já foram gastos R$ 176 milhões e ainda faltam R$ 212 milhões para a sua conclusão. Por isso, o superintendente substituto da Codevasf em Montes Claros, George Fernando de Britto, defendeu que é preciso incentivar os deputados a destinarem recursos de emendas orçamentárias a ações de preservação e geração de recursos hídricos.

No âmbito do Governo do Estado, o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) desenvolve o Plano Mineiro de Segurança Hídrica. Segundo o diretor-geral do Igam, Marcelo da Fonseca, esse planejamento consiste na definição de áreas prioritárias para atuação do Estado, seguida da estruturação de um banco de projetos executivos e da captação de recursos para execução de obras de infraestrutura.

Falta de chuva preocupa deputados

A grave situação de escassez de chuvas, que pode comprometer a agricultura e a geração de energia, preocupa os deputados que participaram da audiência pública. O presidente da comissão, deputado Gil Pereira (PSD), que solicitou a realização do debate, ressaltou que a crise hídrica atual é a pior dos últimos 91 anos. “A segurança hídrica é indispensável para o desenvolvimento de qualquer nação”, afirmou.

O parlamentar lembrou que o Norte de Minas está há 139 dias sem chuva e a seca severa prejudica as usinas hidrelétricas em várias regiões do Estado, especialmente as localizadas no Rio Grande. Ele ainda chamou atenção para o aumento da conta de luz e defendeu a ampliação da oferta de energia solar.

Também autor do requerimento para a realização da reunião, o deputado Celinho Sintrocel (PCdoB) manifestou preocupação com a situação das bacias dos Rios Doce, Jequitinhonha e Mucuri. Ele defendeu a discussão de soluções para a crise hídrica de maneira a evitar a repetição do problema no futuro. “É preciso adotar medidas permanentes e duradouras para garantir o abastecimento de água”, disse.

O deputado Carlos Pimenta (PDT) chamou a atenção para a gravidade da situação no Norte de Minas e defendeu a elaboração de um programa emergencial para atender a região. “Os rios estão secos, as barragens estão em nível crítico. Se a chegada da chuva demorar mais de 30 dias, teremos um desabastecimento brutal no Norte de Minas”, alertou.

Por sua vez, o deputado Virgílio Guimarães (PT) defendeu a continuidade da construção do reservatório de Jequitaí. “Se tivermos consenso na mobilização de recursos para obras prioritárias, teremos a tão sonhada conclusão dessa barragem”, afirmou.

  • Fonte: Agência ALMG