Especialista explica que queimadas e destruição do habitat natural faz com que as animais peçonhentos invadam cidades
Os escorpiões, que costumeiramente apareciam entre os meses chuvosos do verão por ter uma preferência pela umidade, agora não têm mais época do ano para surgir na residência do campo-grandense. Avistar o animal em casa entre dezembro e março alterou para picos durante todo ano.
Em conversa com o Correio do Estado, o Professor Doutor e Pesquisador do Laboratório de Animais Peçonhentos do Instituto de Biociências da UFMS, Malson Neilson de Lucena, explicou que o escorpião está sempre a procura de alimento. No ambiente urbano, por não possuir seus predadores naturais, ocorre o desiquilíbrio da cadeia alimentar, por isso ele se prolifera livremente.
Da família dos Aracnídeos, parentes próximos das aranhas, os escorpiões são resistentes a diversos tipos de venenos comumente usados para dedetizar ambientes. A dedetização pode ser eficaz para eliminar outros insetos, que serviriam para a alimentação do escorpião, no entanto, no caso dele, é ineficaz.
“Tanto as aranhas quantos os escorpiões não são insetos, então a maioria dos inseticidas são contra insetos. Essa dedetização não vai ser eficaz porque eles não são insetos. Existem algumas substâncias que são tóxicas para os escorpiões, mas não podem ser os inseticidas têm que ser específica para os escorpiões. Só que os grandes problemas desses inseticidas ou pesticidas é que, na verdade, ele não mata, só afugenta. Então, o escorpião fica escondido e pode voltar. Eles têm uma capacidade de passar mais de anos sem beber água e comer”
Riscos
Crianças e animais de estimação são os que correm maior risco devido ao baixo peso e como o veneno age no organismo deles. “Se o escorpião picar uma criança ou um pet vai ter um efeito maior porque o organismo deles é menor e o veneno no corpo pode se espalhar mais facilmente”.
Alguns cuidados básicos como manter o ambiente arejado, limpo e bem iluminado pode evitar a circulação do escorpião que tem hábitos noturnos. O professor Lucena destacou que dificilmente o escorpião irá ficar no meio da sala justamente por preferir locais escuros e úmidos.
“Ele não vai ficar [em ambientes] que bate luz toda hora, mesmo que seja artificial. Ele pode se esconder atrás ou embaixo de um móvel, dentro de um sapato ou no guarda-roupa. O cuidado que tem que ter é sempre que for nesses lugares monitorar”.
O escorpião amarelo (Tityus serrulatus), originário de Minas Gerais, São Paulo, por ter se adaptado bem em regiões urbanas, migrou para a região Nordeste e Centro-Oeste do país. Segundo o especialista, há registros dele no Paraná e na região Norte do país. “Ele é um animal de vive muito bem em ambiente urbano, até porque não tem predadores. No habitat natural galinhas, especialmente galinhas da Angola, outras aves como as corujas, algumas aranhas e os sapos são os principais predadores dos escorpiões”, orientou o especialista.
Apesar das dicas caseiras, Lucena é claro, não adianta seguir receitas comuns em sites de internet, como água sanitária. A indicação é acionar uma empresa especializada ou Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) para vir e capturar todos os escorpiões do ambiente.
“Esse escorpião está nesse ambiente porque ele está atrás de alimento. Por exemplo, a gente tem em Campo Grande infestação de grilos em várias regiões da cidades e baratas que está associada ao lixo. Se tem baratas, ou grilos, ele vai vir atrás desse alimento”.
Localize a praga
O especialista explica que para acabar com a infestação o primeiro passo é encontrar onde os escorpiões estão se estabelecendo, realizar a captura e tirá-los do local. Embora tenha se adaptado muito bem na área urbana, o escorpião prefere seu habitat natural, mas com as queimadas o habitat dos animais estão sendo destruídos, o que os “empurra” esses para o terreno urbano.
“Não existe tratamento químico para acabar com escorpiões. O grande problema é deixar de ter lixo e terrenos baldios com lixo que atraem insetos. E o outro é parar de destruir o ambiente natural, forçando eles a virem para dentro das casas. Essas seriam as duas atitudes sem usar produtos químicos porque os químicos não são eficientes para diminuir essa proliferação de escorpiões”, frisou o especialista.
A grande questão levantada pelo professor Lucena para evitar a praga passa pelo desenvolvimento da consciência de parar de destruir os ambientes naturais onde eles vivem, o que os forçam a invadir áreas urbanas.
Chamados
A reportagem entrou em contato com a Secretaria Municipal de Saúde para saber quantos ataques de escorpião ocorreram nos primeiros dias de janeiro. A pasta explicou que o fechamento de dados ocorre mensalmente, portanto os números referentes ao primeiro mês do ano ainda não estão disponíveis. Os números parciais até o dia 12 de dezembro de 2023, ainda em processo de fechamento, são de 61 incidentes.
Até o dia 18 de janeiro, o Centro de Controle de Zoonoses recebeu 145 solicitações de munícipes solicitando dedetização ou relatos de animais na residência.
Curiosidades
- Escorpiões não são da família dos insetos
- Escorpiões são próximos da família das aranhas
- A fêmea do escorpião amarelo não precisa do macho para reprodução (fenômeno chamado partenogênese)
- Os mês de reprodução é agosto e setembro; mas devido a disponibilidade de alimentos podem estar em reprodução agora
- Um escorpião pode ter de 8 a 14 filhotes
- O Brasil possui aproximadamente 82 espécies de escorpiões
Precauções
- Vedar as portas
- Colocar tela em ralos ou manter fechados
- Fechar ralos de pias, tanques (escorpiões podem vir da rede de esgoto ou caixa de gordura)
Sintomas da picada
Na criança:
- Dor
- Diarreia
- Náuseas
- Aumento da pressão arterial
Pets:
- Cansaço
- Tremores, convulsão, espasmos
- Náusea
- Diarreia
- Mudança de cor no local
- Forte dor
- Salivação intensa
- Alteração nos batimentos cardíacos
Saiba o que fazer
- Lavar o local com água e sabão
- A vítima deve procurar a unidade de saúde imediatamente
O telefone do Centro de Controle de Zoonoses para casos de escorpião em casa: 3313-5000, 2020-1796.
Foto: Reprodução Correio do Estado
Fonte: Correio do Estado