Aceleração na entrega de vacinas contra a Covid-19, vista nos últimos dois meses, ajudou nessa projeção
Com o ritmo acelerado, Mato Grosso do Sul pode vacinar toda a população adulta até setembro deste ano contra a Covid-19. De acordo com a pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) Mariane Barros Neiva, a previsão de vacinação com pelo menos uma dose para quem tem mais de 18 anos é de quatro meses e 18 dias.
No entanto, Neiva salientou que a conta que determina uma estimativa de vacinação em toda a população não é linear. É preciso levar em consideração as faixas etárias, os grupos com comorbidades, além da entrega e da distribuição das vacinas.
Para esse cálculo de previsão, os pesquisadores compilaram dados até 7 de maio. À época, o Estado já havia aplicado um total de 811 mil doses, sendo 588,4 mil referentes à primeira dose e 222,6 mil doses de reforço.
Mato Grosso do Sul é o primeiro estado em aplicação de doses, proporcionalmente, em comparação com outras unidades da Federação.
SECRETARIA
De acordo com o secretário de Estado de Saúde, Geraldo Resende, por conta dos atrasos no repasse de doses do Ministério da Saúde e na importação de insumos, não é possível estimar em quanto tempo o Estado estará completamente imunizado contra a doença.
No entanto, Resende afirmou que, se estivéssemos em um cenário ideal de vacinas entregues de forma constante e substancial, MS poderia vacinar 70% de sua população até julho. “Atualmente, já estaríamos com pelo menos 50% dos sul-mato-grossenses imunizados, mas, sem os repasses, a conta não fecha”, afirmou.
Considerando a última semana, em média, 13 mil imunobiológicos foram aplicados por dia no Estado.
Em levantamento realizado pelo Correio do Estado com os dados de vacinação fornecidos pela Secretaria de Estado de Saúde (SES) até ontem, foi possível constatar que desde 19 de janeiro, data que marca o início da aplicação das doses contra o coronavírus, a progressão de imunização foi, em média, de 5,11% a cada mês.
Em um recorte mais preciso, com os dois primeiros lotes enviados pelo Ministério da Saúde, o Estado atingiu 3,02% de cobertura vacinal geral em 18 dias, levando em consideração os meses de janeiro e fevereiro.
Em março, com 161,1 mil doses aplicadas, o número de imunizados dobrou, alcançando o patamar de 6,74% referente à aplicação da primeira dose.
Com 353,4 mil vacinas entregues e 395,8 mil doses aplicadas (o valor a mais corresponde a remanescentes de outros meses), durante o mês de abril, 6,54% dos sul-mato-grossenses receberam a primeira dose do imunobiológico.
E apenas em 10 dias de maio, a celeridade na campanha de imunização resultou em mais 4,51% de pessoas do Estado vacinadas.
Se continuar neste ritmo, até o fim de maio, a perspectiva é de alcançar 30% dos sul-mato-grossenses com pelo menos uma das duas doses preconizadas por fabricante. Será possível ainda que até o fim do primeiro semestre cerca de 40% da população de todo o Estado esteja vacinada contra a Covid-19.
Em nota, a SES esclareceu que o avanço no processo de imunização contra o coronavírus depende da quantidade de imunizantes enviada pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde.
Por ora, 22,19% da população de todo o Estado já recebeu as doses referentes à primeira aplicação. Em relação à vacina de reforço, 51% dos moradores do Estado já se encontram com o calendário completo de vacinação contra a Covid-19.
REALIDADE
O infectologista e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Rivaldo Venâncio tem cautela ao fazer estimativas em relação ao término da campanha de imunização.
No entanto, Venâncio salientou que a celeridade na aplicação das doses em Mato Grosso do Sul já foi responsável por amenizar a pressão hospitalar.
“Em grupos que já concluíram a segunda dose há 14 dias, nós temos uma redução fantástica nas internações e mortes em grupos prioritários”, ponderou o pesquisador.
Em virtude de a Covid-19 ser uma doença recente, o infectologista explicou que ainda não há parâmetros que garantam um controle da doença a partir de uma determinada taxa de vacinação.
“Essa é a primeira epidemia de coronavírus, então, mantemos a estimativa de 70% de vacinados, pelo menos, para que haja controle da doença”, disse Venâncio. Para o pesquisador, quando o Estado atingir 50% dos sul-mato-grossenses imunizados, a redução dos casos de contágio e mortes será substancial, mesmo cenário já comprovado em países como Inglaterra e Israel.
IMPACTO ECONÔMICO
A Associação Comercial e Industrial de Campo Grande (ACICG) realizou uma pesquisa para diagnosticar os impactos econômicos impostos pela pandemia.
Em relação à vacinação contra a Covid-19, 92% dos associados acreditam que a imunização da população impactará diretamente no crescimento econômico.
Conforme o primeiro-secretário da instituição, Roberto Oshiro, apenas com ampla vacinação será possível que o Estado e o País voltem a um cenário perto da normalidade. “Temos observado que, com a aplicação de doses, houve uma redução da ocupação hospitalar e um controle maior da pandemia”.
De acordo com Oshiro, com o avanço na imunização em públicos cada vez mais jovens, é possível que em poucos meses a economia seja recuperada.
“Temos visto que Campo Grande está indo muito bem, e em conversas com os gestores de saúde eles comentam que a maioria de Mato Grosso do Sul poderá estar imunizada em quatro, três meses”, finalizou.
CENÁRIO NACIONAL
Diferentemente do esperado para o Estado, o Ministério da Saúde estabeleceu como meta imunizar de forma geral apenas os grupos prioritários até setembro.
O anunciado anteriormente pela Pasta previa o mês de maio como o último período de vacinação contra o coronavírus em profissionais da linha de frente no combate à pandemia, além das forças de segurança, profissionais de educação e grupos com comorbidades.
O atraso na vacinação, conforme o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, ocorreu em razão dos atrasos na importação do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) e da escassez de insumos.
Para se ter uma ideia, doses programadas para serem entregues há mais de 10 dias só foram repassadas neste mês. Este é o caso da Coronavac, desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac BioNTech.
O atraso na entrega gerou um transtorno para mais de 100 mil pessoas só em MS, que estavam com a dose de reforço agendada para 21 de abril em diante.
A previsão inicial era de que o Instituto fornecesse 46 milhões de doses ao Ministério da Saúde até o fim de abril. No entanto, a produção deste imunobiológico tem sofrido atrasos em virtude da falta do envio de matérias-primas.
O Butantan se comprometeu a liberar hoje (12) mais um milhão de doses, concluindo o primeiro contrato firmado com o governo federal. O Instituto precisa, ainda, garantir o fornecimento de mais 54 milhões de vacinas até 30 de agosto.
Para o restante da população, o Ministério da Saúde, por meio de seu ministro, estima que a imunização completa, com as duas doses, de todo o País seja feita até o fim deste ano.
- fonte: Correio do Estado