Dos 50 gols marcados pelo Flamengo na era Jorge Jesus, dez tiveram a marcação por pressão como característica fundamental. Lembra a maneira como Zico descrevia os treinos de Cláudio Coutinho, nos anos 1970, com o melhor rubro-negro de todos os tempos habituando-se a subir suas linhas para dificultar a saída de bola dos rivais. A teia armada para prender os adversários transformou-se num arrastão com Jorge Jesus. É comum ver os cinco homens mais avançados do Flamengo subindo para marcar até mesmo o goleiro adversário. Assim, Léo, do Athletico Paranaense, entregou um gol a Jorge Henrique e Yony González, do Fluminense, entregou no pé de Gabriel. A finalização virou escanteio que, cobrado, resultou no primeiro gol do Flamengo no Fla-Flu.
Na imagem, a seta apontada de Gabriel em direção à pequena área indica a capacidade de marcar até o goleiro. Se é assim, não vai haver sobra na defesa. O Grêmio sabe disso e tentará quebrar a primeira linha de marcação de Jorge Jesus.
Mas Renato não deixará seus zagueiros, nem o goleiro Paulo Victor, saírem com passes curtos. O abuso dos lançamentos longos também é um risco. Porque não há um centroavante como Jael, para segurar a bola no alto e esperar o time chegar. A precisão diminui e, se é possível deixar Éverton no mano a mano com Rafinha, também é de se imaginar que os passes longos sejam devolvidos ao Flamengo e isto se transforme num massacre de posse de bola e finalizações a favor do time carioca.
Renato não diz abertamente, mas há uma chance de jogar com Michel, o que diminui a qualidade de passe, em comparação com Thaciano, mas aumenta a média de estatura. Michel tem 1,83 m, apenas um centímetro a mais do que Thaciano, mas sua impulsão torna o jogo aéreo muito mais forte, tanto na defesa, quanto no ataque.
Dos dezesseis gols marcados pelo Grêmio na Libertadores, 25% foram de bola parada. Só dois pelo alto, mas certamente esta será uma tentativa do Grêmio para superar o Flamengo. Quando se diz drone, não se fala da espionagem, mas do jogo aéreo.
A outra, a velocidade pelos lados, de Éverton e Alisson. O Grêmio tentará quebrar a primeira linha de marcação rubro-negra e em seguida acionar Éverton e Alisson com passes de Maicon e Matheus Henrique, como mostra a imagem. Também houve 25% dos gols de contra-ataque, na Libertadores, o que inclui o que resultou no empate por 1 x 1, na Arena do Grêmio, em 2 de outubro.
Com três volantes, é de se imaginar o Grêmio retraído. Não é o desejo. Só vai funcionar se os volantes subirem a marcação e dificultarem o primeiro passe, seja de William Arão, seja de Gérson.
O Flamengo precisa cuidar de não permitir o mano a mano de Alisson e Éverton com Rodrigo Caio ou Pablo Marí. Por outro lado, o fato de a marcação gremista ser por encaixe, com os marcadores acompanhado os atacantes foram de seus quadrantes, pode abrir espaços para o rubro-negro decidir. Nenhum time do país tem tanta capacidade de deslocamentos em velocidade quanto o Flamengo. Aconteceu no gol de Bruno Henrique, em Porto Alegre. De Arrascaeta iniciou a jogada pela esquerda e fez o passe decisivo da direito.
Jorge Jesus dirige hoje o melhor time do país, o que dá favoritismo ao Flamengo. Mas está claro que será uma partida de extremo equilíbrio, em que o mínimo deslize tático pode representar a classificação para um ou para o outro lado.