Mirandinha inaugurou o Morenão e mal sabia que ali depois seria campeão
De um lado, o clube, que pelas ondas do rádio ganhou o coração dos brasileiros. Do outro, o time que pulsava no coração dos paulistas ao ritmo do crescimento daquela terra, cada vez mais importante para o País. Assim em 7 de março de 1971 foi inaugurado um monumental e histórico estádio: o popular Morenão, com Flamengo e Corinthians em campo.
Oficialmente chamado Estádio Pedro Pedrossian, nome do governador que o construiu, o Morenão ganhou essa alcunha para lembrar da Cidade Morena, Campo Grande, anos depois nomeada capital do Mato Grosso do Sul.
De importância história ímpar, para a cidade e para o futebol, o Morenão completa nesse domingo (7) 50 anos, sem festa. A data é oficial, já que exatos um mês antes, o Operário já havia empatado em 1 a 1 diante dos paraguaios do Olimpia.
Há exatos 50 anos o Flamengo entrava no campo do Morenão, às 15h, com Ubirajara no gol, seguido de Onça, Murilo, Reyes, Rodrigues Neto (depois substituído por Tinteiro), Zanata, Liminha, Buião (substituído durante o jogo por Caio), Roberto, Fio (Nei entrou em seu lugar depois) e Caldeira. O treinador era Dorival Knippel.
Já pelo alvinegro do leste paulistano, o goleiro tricampeão do mundo, Ado, puxou a fila que ainda teve Zé Maria, Almeida, Luís Carlos, Sadi, Tião Corinthians, Lindóia, Paulo Borges e Aladim. No decorrer do jogo, Ado saiu para a entrada de Armando, Sadi deu lugar a Pedrinho e Joaquim Rocha substituiu Paulo Borges.
Mas o treinador corintiano naquele dia tinha mais gente para aquele amistoso: um dos maiores nomes da história do futebol mundial, Roberto Rivellino, inaugurou o sagrado gramado – depois ainda deu lugar a Adãozinho – ao lado de um jovem talento que, mal sabia, entraria para a história daquele estádio.
Mirandinha – Sebastião Miranda Silva Filho, nascido em Bebedouro (SP) e hoje está com 69 anos. Jovem talentoso que chamava a atenção no fim dos anos 60, fincou seu nome na história do futebol nos anos 70. Sem saber, mesmo vivendo tão longe, cravou também seu nome na história do Estádio Morenão, na então longínqua Campo Grande.
Mirandinha tinha recém completado 19 anos quando desembarcou na cidade que já era a maior do Mato Grosso, na região sul daquele enorme estado. Ele fazia parte do elenco que perdeu por 3 a 1 para o Flamengo naquele amistoso de inauguração.
“Eu era bem jovem e foi uma alegria muito grande receber aquele convite e poder inaugurar mais um estádio. E quem diria que anos depois eu voltaria aí como jogador e depois como treinador”, revela Miranda, hoje morando em Praia Grande (SP).
Ator de um espetáculo de inauguração em 1971, ator de uma disputa acirrada em 1978. Mirandinha cresceu, trocou o Corinthians pelo São Paulo, jogou Copa do Mundo em 1974, foi campeão paulista em 1975 com o tricolor e com a mesma camisa voltou aqui para disputar a semifinal do Brasileirão de 77 contra o Operário.
O resultado foi uma derrota por 1 a 0, revertida no Morumbi. Na final, veio o título nacional sobre o Atlético Mineiro. “O campeonato de 77 foi histórico e o Morenão fez parte dele. Olha esse estádio na minha trajetória outra vez”, brinca Miranda.
Campeão – Anos depois, Mirandinha ainda defendeu as cores do CAD (Clube Atlético Douradense) e fez vários embates históricos no Morenão, estádio onde em 2002, já como treinador, se consagrou campeão sul-mato-grossense, dirigindo o Cene.
“Eu cheguei aí e pensei, aqui fui jogador, aqui sou treinador. Que maravilha! É algo que sempre fica na cabeça da gente. As coisas vão passando na nossa cabeça, as vezes é difícil lembrar pois são muitos lugares que a gente vai, mas os mais marcantes não tem como esquecer e você acaba lembrando, como é o Morenão”, frisa.
Mirandinha ainda se consagrou campeão estadual pelo Cene em 2005 e em 2011, não exatamente dentro do Morenão, mas o estádio fez mais uma vez parte da trajetória de sucesso de Sebastião. “Foram épocas muito boas. Uma passagem inesquecível. O Morenão é um baita estádio, fantástico. Espero que volta a encher como antigamente”.
Se sente saudades, claro, Mirandinha sente. Mas principalmente ele sente falta dos bons embates que o Brasil inteiro viveu nos anos 70. “Eram jogadores fantásticos, cada equipe tinha um padrão de jogo muito alto. No Brasileiro de 77 mesmo chegamos ao Morenão sabendo que íamos encontrar dificuldades”.
Questionado sobre a qualidade do estádio na época, ele frisou que a arena não devia nada a ninguém. “Joguei a Copa de 74 em vários estádios e eles eram muito parecidos com os do Brasil. O Morenão não devia nada a nenhum daqueles. Só fui conhecer estádios diferentes quando fui jogar nos Estados Unidos, no fim de carreira”, comenta.
Além de Mirandinha – Que Mirandinha é um personagem único nesses 50 anos de Morenão, ninguém nega. Mas obviamente o estádio que é a segunda casa de muita gente tem muito mais histórias a contar, de shows musicais, eventos de outros esportes e até aparição de nave de extraterrestres.
Mas uma pouco falava por aí é referente ao seu ‘nascimento’, que teria ocorrido na verdade um mês antes do datado oficialmente, inclusive com público pagante de 5,5 mil pessoas em um empate de 1 a 1 entre Operário e os paraguaios do Olimpia.
“Só não foi considerado oficial pois ainda faltava instalar as cadeiras do estádio. Ele não estava pronto, então a inauguração oficial mesmo foi só um mês depois”, explica Raul Rodrigues, fotógrafo que acompanha a história do futebol de Mato Grosso do Sul há diversos anos, mesmo antes de entrar nessa carreira.
Os registros, ele guarda na memória, já que mesmo buscando há vários anos fotos desse jogo, ele não conseguiu encontrar nada. “Talvez consiga nos bancos de dados dos jornais da época, mas aí precisaria tirar um tempo só para fazer essa pesquisa”.
Palco de histórias – Essa é a palavra que melhor define o Morenão. Palco. Um palco de histórias que fizeram parte do cotidiano de Campo Grande e todo Mato Grosso do Sul. Um palco que viu ali passar craques de vários quilates, que construiu a identidade local e que, mesmo diante de vários problemas, se sustenta.
Com reforma prometida desde 2016, mas travada por questões burocráticas, sua revitalização segue apenas no papel. Falta também ao Morenão atrações.
Neste fim de semana, por exemplo, União x Costa Rica será nas Moreninhas, bem longe do gigante que faz aniversário.
- fonte: Campo Grande News