Após desabafo de Vinícius Júnior e dos recentes casos de Daniel Alves e Robinho, futebol deve dar um passo atrás para que a igualdade dê um passo à frente
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Após estrear com o pé-direito e vencer a Inglaterra por 1×0 em Wembley no último sábado (23), a Seleção Brasileira Masculina entra em campo nesta terça-feira (26) em pleno Santiago Bernabéu para enfrentar a Espanha. Apesar disso, o que acontece dentro das “quatro linhas” se tornou apenas um plano de fundo diante de questões tão mais importantes.
O primeiro gol de Endrick com a camisa da seleção, a vitória sobre uma potência mundial mesmo com diversos desfalques, a contundente atuação do time e a próxima partida em um dos maiores palcos do futebol contra um grande adversário, tudo se torna pouco ou quase nada relevante quando os casos de racismo e os abusos sofridos pelas mulheres são postos nos patamares de importância necessários.
Daniel Alves e Robinho
2013 e 2022. São os anos em que duas mulheres foram marcadas pelo resto de suas vidas pelos ex-jogadores Robinho e Daniel Alves. Os casos são os retratos do que vivem as vítimas de abusos em busca de justiça.
Robinho, em 2013, fez parte de um estrupo coletivo a uma jovem de 23 anos, na Itália. Condenado apenas em 2017, o jogador fugiu para o Brasil, e somente na última quinta-feira (21) foi preso. 11 anos foram necessários para que a justiça fosse feita. 11 anos foram necessários para que a vítima obtivesse uma resposta. 11 anos para que a frase “não vai dar em nada”, dita pelo criminoso sobre o caso, fosse silenciada.
Em dezembro de 2022 Daniel Alves abusou de uma mulher no banheiro de uma boate em Barcelona e em janeiro de 2023 o jogador foi preso. Condenado na Espanha após passar todo o período do julgamento preso e mudar suas versões do fato cinco vezes, o criminoso saiu nesta segunda-feira (25) da prisão, após o pagamento da fiança de R€1 milhão, em torno de R$5,4 milhões. O caso que parecia ser “exemplar” para justiça, agora, no entanto, somente escancara a falta de solidez na luta contra os abusos sofridos pelas mulheres e demonstra que com dinheiro, alguém pode fazer o que quiser sem medo das consequências.
Os dois casos chocaram o mundo do futebol, tanto pelas agressões quanto pela falta ou demora das punições, mas fez com que atletas e personalidades do esporte levantassem a bandeira da justiça e da conscientização nas bases e centros de treinamentos de clubes.
O capitão da seleção brasileira, Danilo destacou em entrevista coletiva na sexta-feira (22), a necessidade da conscientização da juventude do futebol. O jogador ressaltou que os casos são reflexos da sociedade, e que através da conversa com os jovens [atletas ou não], as próximas gerações poderão desenvolver a empatia e o respeito pelas mulheres.
Vinícius Júnior
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Não bastasse os casos acima, o mundo viu nesta segunda-feira (25), Vinícius Júnior desabafar sobre o racismo sofrido na Espanha.
A luta do atleta ganhou muita força há mais de um ano, em um jogo contra o Valencia. Na ocasião, o estádio adversário cantava “mono” [macaco] para Vinícius. De lá para cá, os insultos racistas passaram a ser frequentes nas torcidas adversárias, mas as punições seguiram sem ser uma realidade.
Vinícius veio a público mais de uma vez falar sobre os casos. Mais de uma vez pessoas chamaram de “mimimi” a luta do jogador pela mudança. Na Espanha, o racismo não é crime, ou seja, a luta do atleta vai muito além do futebol, e chega na mudança da Lei no país.
O jogador desabafou após o jogo contra a Inglaterra e destacou a falta de punição dos criminosos. A frustração pela sequência dos casos foi exposta por Vinícius Júnior, que declarou que “só queria jogar futebol” e que “cada vez tem menos vontade de jogar futebol”.
Apesar da dor, o atleta segue de cabeça erguida, porque entende que faz algo pelos outros, e não somente por si.
“No futebol tem muitas pessoas, tantos jogadores melhores do que eu que já passaram por aqui, eu quero fazer com que as pessoas no mundo possam evoluir, melhorar, que possamos ter igualdade, que num futuro próximo haja menos casos de racismo, que as pessoas negras possam ter uma vida normal, como as outras. Quero seguir lutando por isso. Se fosse por mim, eu já teria desistido”, disse.
Os casos não vão parar de uma hora para outra, mas a luta pela igualdade de gênero e racial vai persistir, e com isso a busca pela evolução, mudança e conscientização.
Para os casos atuais, no entanto, a luta é pela justiça.
Fotos de capa: Reprodução