MS precisa de quase 1 milhão de doses para vacinar público-alvo contra a dengue

Ministério da Saúde vai definir critérios para distribuição do imunizante, já que nem todos dentro do grupo receberão a vacina

Mato Grosso do Sul precisa de quase 1 milhão de doses da vacina contra a dengue para imunizar todas as pessoas na faixa etária elegível para receber o imunizante Qdenga, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS). Porém, o governo federal já anunciou que não terá vacinas suficientes para todas essas pessoas e deverá limitar mais o público-alvo.

De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES), a estimativa de população entre 6 anos e16 anos no Estado é de 461.470 pessoas, segundo levantamento preliminar elaborado pelo Ministério da Saúde. Como a vacina Qdenga, fabricada pelo laboratório japonês Takeda, precisa de duas doses para garantir a imunização completa, isso significa que seriam necessárias 922.940 doses.

Já para Campo Grande, que tem cerca de 136 mil pessoas nesta faixa etária, seriam preciso cerca de 272 mil doses do imunizante.

Porém, mesmo respeitando a faixa etária orientada pela OMS, o Ministério da Saúde explicou que nos próximos dias deverá definir quem deste grupo receberá as doses destinadas para o Brasil, já que são 5,2 milhões adquiridas e 1 milhão doadas.

“Dentro desse grupo [6 anos a 16 anos], vamos ver qual é o melhor grupo etário para ter melhor resultado epidemiológico, evitando hospitalizações e mortes”, explicou o diretor do Programa Nacional de Imunizações (PNI), Eder Gatti, em coletiva de imprensa nesta segunda-feira.

Para o gerente de imunizações da SES, Frederico Jorge Pontes de Moraes, Mato Grosso do Sul é um estado estratégico para a vacinação e que, mesmo que venha uma quantidade muito inferior ao total do público-alvo, é importante a imunização contra a doença.

“É uma ferramenta adicional que teremos contra a dengue, vem como um a mais, mas ainda precisamos manter os outros cuidados, como deixar o quintal limpo. Acredito que em MS será de suma importância a aplicação da vacina por ser um estado endêmico, então, devemos receber, sim, doses”, avaliou Moraes.

De acordo com o médico infectologista Rivaldo Venâncio, que é também pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o público-alvo para essa vacina foi escolhido pela OMS principalmente porque os testes clínicos na fase três ocorreram, principalmente, com crianças de 4 anos a adolescentes de 16 anos.

“Os testes no Brasil foram feitos em quatro capitais, Natal, Salvador, Vitória e Campo Grande, e os resultados robustos são com essa população. E não só aqui, mas em vários outros lugares do mundo também. Embora a Anvisa tenha colocado no registro da vacina que ela pode ser dada para pessoas de até 60 anos, a farmacêutica não tem capacidade de produção em larga escala, o que fez com que a OMS indicasse a preferência para esse grupo”, explicou o infectologista, que coordenou a pesquisa da vacina na Capital.

Segundo o Ministério da Saúde, a definição sobre as faixas etárias que receberão a vacina, bem como as localidades prioritárias, será feita em conjunto com estados e municípios, em reunião marcada para o dia 25.

A previsão do Ministério é de iniciar a vacinação em fevereiro. Segundo o governo federal, o Brasil é o primeiro país do mundo a oferecer o imunizante em sistema público e universal.

“É importante [vacinar] porque começa a dar passos seguros contra a dengue. Vem de mais de um década a tentativa de fazer uma vagina contra a doença. Para se ter uma ideia, um dos primeiros grupos que tentou foi do doutor Albert Sabin, que desistiu e foi pesquisar a pólio. Então, esta vacina é uma conquista da ciência”, lembrou Venâncio.

“Não vai ter um impacto substancial neste verão [a aplicação dessas doses], mas podemos esperar mais doses em 2025 e 2026”, completou.

Ainda conforme o infectologista, diferentemente das vacinas contra a Covid-19 e contra a influenza, até agora, os estudos mostram que não será necessária a aplicação de novas doses da vacina contra a dengue, o que significa que apenas as duas doses do imunizante da Takeda serão necessárias para cada habitante. As doses serão aplicadas com três meses de intervalo.

Além da vacina japonesa, o Instituto Butantan também desenvolve o seu imunizante contra a doença. A expectativa é de que ele fique pronto ainda neste ano.

MS

Segundo dados do boletim epidemiológico divulgado ontem pela SES, Mato Grosso do Sul teve em duas semanas 492 casos notificados de dengue e nenhuma morte este ano.

No Estado, a vacina contra a dengue já está sendo aplicada em Dourados, desde o dia 3. Nesse período, de acordo com a assessoria do município, já foram vacinadas 8.065 pessoas, mas a meta é chegar a 150 mil.

No município do interior, porém, as doses são fruto de parceria com a farmacêutica Takeda e a faixa etária do público-alvo é de 4 anos a 59 anos.

Foto: Reprodução Correio do Estado
Fonte: Correio do Estado