Nelson Trad é cotado para ser ministro das Relações Exteriores

Atual titular da Pasta, Araújo vem sofrendo inúmeros desgastes dentro do governo Bolsonaro

O senador e presidente da Comissão de Relações Exteriores Nelson Trad Filho (PSD-MS) é cotado para substituir o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, caso ele seja exonerado. 

A situação de Araújo no governo Bolsonaro nos últimos meses é crítica, pois ele passa por um processo de “fritura”, por causa dos seus posicionamentos ideológicos: muitas das suas declarações, principalmente nas redes sociais, causam rusgas nas relações com o principal parceiro comercial do Brasil, a China.

O parlamentar entrou em campo, no ano passado, como uma espécie de “bombeiro”, para amenizar a tensão entre os países. 

Para dar ainda mais endossamento a esse processo de fragmentação da figura do ministro bolsonarista, o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que o governo federal poderá substituí-lo após as eleições para a presidência da Câmara e do Senado, marcadas para 1º de fevereiro.

Portanto, Trad ganha ainda mais força, pois, em troca de apoio às pautas do governo e à eleição de Arthur Lira (PP-AL) – que tem a preferência do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) –, o Centrão vem negociando cargos e ministérios. Esse movimento de acordos estaria sendo encabeçado por Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, partido do clã Trad.

Ernesto pode ter sido um dos pivôs que influenciou um suposto bloqueio chinês à importação de insumos da vacina contra a Covid-19 desenvolvida naquele país, em parceria com o Instituto Butantan, a Coronavac.

Em decorrência desses fatos, Araújo acabou excluído das negociações, que foram conduzidas por outros ministros, entre eles Tereza Cristina (DEM-MS), da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e o senador Nelson Trad.  

Sobre essa situação com o governo chinês, o senador avaliou – em tom mais crítico que em outras oportunidades – que a relação entre países é muito parecida com as relações entre pessoas. 

“Caso você tenha um amigo e aconteça um atrito, isso logo terá como consequência um distanciamento, porém, isso não quer dizer que ele deixará de ser seu amigo. Ou seja, entre dois países é necessário um apoio, uma visita diplomática, planos para aumentar ações econômicas, entre outros, para estreitar esses laços. 

Porém, o que vem acontecendo em nossas relações com algumas nações é que muitas figuras do governo federal estão alinhadas ideologicamente com uma figura de posicionamentos fortes, que é o ex-presidente norte-americano Donald Trump. Os Estados Unidos têm seus interesses, e devemos ser inteligentes para traçarmos os nossos”, avaliou Trad.

Questionado se ele acredita que a posição do ministro sobre a China teria atrapalhado o envio dos insumos da vacina, o senador afirmou que o mundo todo está atrás desse tipo de material e cada país avalia qual seria a negociação de maior interesse. 

No entanto, um bom relacionamento traria ao Brasil um protagonismo nesse mercado com o país asiático.

“Eu acredito que o mercado também possa ter influenciado esse atraso, porém, um bom diálogo sempre abre portas. Estreitar laços com países pontuais para nossos interesses, como China e Estados Unidos, serve para que possamos sair na frente de outras nações e conseguirmos melhores negócios. Nesse caso, ajudaria na questão das vacinas”, explicou.

O senador Nelson Trad também ressaltou que o Brasil sempre se destacou por sua diplomacia. 

Desde 1949, cabe tradicionalmente ao representante brasileiro fazer o discurso inaugural do debate geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Nas últimas sete décadas, chanceleres e presidentes subiram à tribuna em Nova York para falar em nome do Brasil.

“Nós sempre intervimos, às vezes até em conflitos entre países, de forma positiva. Por exemplo, no ano passado, tivemos no Brasil a reunião dos Brics [Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul]. Os presidentes de todos os países, principalmente de Brasil e China, demonstraram um tom amistoso e tranquilo. Porém, críticas sistemáticas ao regime chinês acabaram por colocar por terra toda a estratégia realizada nesse fórum”, revelou.

FRITURA

Ernesto Araújo foi um dos protagonistas de diversas polêmicas desde o início do governo Bolsonaro, em janeiro de 2019. 

Por exemplo, em novembro de 2020, o chanceler saiu em defesa do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que, nas redes sociais, havia associado o governo chinês à “espionagem” por meio da tecnologia 5G. Na ocasião, o presidente chegou a elogiar Araújo pela iniciativa, mas escalou outros ministros para negociar a importação das vacinas.

Além do conflito com a China, Araújo ainda se coloca alinhado aos posicionamentos políticos do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, derrotado pelo democrata Joe Biden. Esse tipo de posicionamento pode influenciar também na relação com o segundo maior parceiro comercial do País.

O Itamaraty reconheceu a vitória do atual presidente americano apenas após a conclusão dos tribunais de que não houve fraude nas eleições e do reconhecimento de derrota do próprio Trump.

Na época, Nelson Trad afirmou que, apesar de ter sido uma eleição equilibrada, não teria motivo para questionar o resultado. “Entendo que, como democrata e respeitador do Estado Democrático de Direito, não há o que se contestar. Essa foi a vontade do povo americano”, analisou, em entrevista.

  • fonte: Correio do Estado