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Quando alguém recebe o diagnóstico de um problema na coluna, como uma hérnia de disco, é comum que o medo tome conta. Medo de agravar a situação, de não conseguir mais realizar atividades simples ou até de nunca se recuperar completamente. Esse medo, muitas vezes, não surge apenas da condição em si, mas também da forma como a informação é transmitida.
Muitos profissionais, com a melhor das intenções, recomendam evitar movimentos ou esforços para proteger a coluna. Embora essas orientações possam fazer sentido em alguns casos, a ciência mostra que, na maioria das vezes, o movimento controlado é uma das melhores formas de tratar a dor lombar e promover a recuperação. Este artigo busca explicar, de forma clara e acessível, como enfrentar o medo, usar o movimento como aliado e entender o potencial incrível de autocura do corpo humano.
Hérnia de disco: o que realmente sabemos
A hérnia de disco é um diagnóstico comum, mas, ao contrário do que muitos acreditam, ela raramente representa uma sentença de dor permanente ou incapacidade. Pesquisas publicadas pela revista American Journal of Neuroradiology, em 2015, mostram que cerca de 90% das hérnias de disco se resolvem de forma espontânea em até três meses, sem a necessidade de cirurgia ou tratamentos agressivos. Apenas 2% dos casos exigem intervenções mais complexas, como apontam estudos conduzidos pela Cleveland Clinic, nos Estados Unidos.
Além disso, exames de imagem frequentemente mostram hérnias de disco em pessoas que não sentem qualquer tipo de dor. A Universidade de Harvard divulgou estudos que demonstram que mais de 50% das pessoas acima de 40 anos apresentam alterações na coluna, como hérnias, mas sem sintomas. Isso reforça a ideia de que, na maioria dos casos, a dor não está necessariamente ligada à gravidade do problema estrutural, e o corpo possui mecanismos naturais para lidar com essas condições.
O impacto do medo no tratamento
Quando um paciente ouve que sua coluna está “fragilizada” ou que certos movimentos podem “agravar a lesão”, é natural que ele desenvolva um medo excessivo de se movimentar. Esse medo, conhecido como cinesiofobia, pode levar à inatividade, criando um ciclo negativo: músculos enfraquecidos, aumento da rigidez na coluna e perpetuação da dor.
Esse fenômeno, muitas vezes chamado de pedagogia do medo, ocorre quando o discurso do profissional de saúde foca excessivamente em restrições e limitações, sem considerar a importância do movimento como parte da recuperação. O resultado é que o paciente, ao evitar atividades, pode prolongar ainda mais o desconforto e a incapacidade funcional.
O papel do movimento e da autocura
De acordo com o Dr. Stuart McGill, professor emérito da Universidade de Waterloo, no Canadá, e uma das maiores autoridades mundiais em biomecânica da coluna, o corpo humano tem uma notável capacidade de se curar sozinho. Segundo ele, dois pilares são essenciais para essa autocura:
Produção de movimento seguro e progressivo. Movimentos corretos e bem orientados promovem a lubrificação das articulações, fortalecem os músculos que estabilizam a coluna e ajudam na regeneração dos tecidos.
Redução do processo inflamatório. A inflamação é a principal causa de dor em muitos casos, e estratégias que reduzem esse processo podem acelerar a recuperação.
Estratégias para enfrentar a dor lombar
A ciência nos mostra que enfrentar a dor lombar com movimentos adequados pode ser muito mais eficaz do que o repouso absoluto. Aqui estão algumas dicas que podem ajudar:
Movimente-se gradualmente. Atividades simples, como caminhadas leves, podem ajudar a reduzir a dor e aumentar a confiança. Comece devagar e vá progredindo de acordo com o que seu corpo permitir.
Faça exercícios de aterramento. Estudos publicados pelo Journal of Environmental and Public Health, em 2012, sugerem que caminhar descalço em superfícies naturais pode reduzir inflamações e melhorar a circulação.
Alongue-se e fortaleça-se.
Exercícios suaves que fortalecem o core (conjunto de músculos que sustentam a região central do corpo) ajudam a estabilizar a coluna e prevenir novos episódios de dor.
Confie no processo.
É importante lembrar que a recuperação leva tempo. O mais importante é persistir, com paciência e confiança no potencial do corpo para se curar.
A importância de uma abordagem positiva
Um ponto central para superar o medo da dor lombar é mudar a forma como a condição é explicada ao paciente. Informações alarmantes e termos como “desgaste” ou “degeneração” podem ser substituídos por orientações encorajadoras, que mostrem o que o paciente pode fazer para se recuperar, em vez de apenas listar o que ele deve evitar.
Profissionais de saúde têm um papel fundamental nesse processo, ajudando os pacientes a entender que o movimento, quando realizado de forma controlada e com supervisão, não é apenas seguro, mas essencial.
Conclusão
O medo de se mover é, muitas vezes, o maior inimigo de quem sofre com dor lombar.
A ciência já demonstrou que, na maioria dos casos, o corpo humano tem um enorme potencial de autocura, especialmente quando se combina movimento adequado com estratégias para reduzir a inflamação.
Com base em estudos recentes e no trabalho de especialistas como o Dr. Stuart McGill, sabemos que a coluna é muito mais forte e resiliente do que se imagina. Encorajar o movimento, em vez de temê-lo, é o primeiro passo para uma recuperação mais rápida e eficaz, devolvendo ao paciente sua qualidade de vida.
Éder Wagner – Bem Estar
Expert em Movimento e Pós Graduado Performance Esportiva Sistema Internacional de ensino. Proprietário Studio Life30.
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