Todas as noites, minha filha quer que eu conte uma história antes dela dormir. Esses dias contei uma linda história de superação de uma mulher guerreira com uma das passagens mais surpreendentes relatada nos textos bíblicos. Essa história definitivamente é o que podemos chamar de dramática, assim como é dramática a vida de centenas de milhares de pessoas ao redor do mundo. Essa senhora, talvez fosse uma típica dona de casa, muito bem casada com um homem idôneo e sensato. No entanto o infortúnio da vida os assolou de maneira devastadora. Por alguma razão, seu marido contraiu dívidas com alguns homens da cidade – aqui tomo a licença de fazer algumas suposições – o relato é que o falecido tratava-se de um discípulo dos profetas, um homem que temia a Deus e buscava fazer o certo. Por isso penso que uma doença o acometeu, e comprometeu sua capacidade de trabalho e sustento, ou ainda que seu coração generoso lhe fez buscar recursos que não dispunha no momento para socorrer alguém ainda mais necessitado. De qualquer forma, esse homem se juntou aos seus antepassados, por doença ou acidente, ele foi retirado de sua família e deixou uma herança de dívidas.
Passado alguns dias do luto, a viúva, uma prendada dona de casa, e mãe corajosa, que nunca havia trabalhado fora e portanto não tinha outra fonte de sustento, estava assistindo a sua dispensa esvaziar-se e as suas duvidas de como seria a partir de então, se tornavam ainda mais sombrias pela luz da realidade. Para tornar mais trágico o momento, os credores de seu marido resolvem cobrar seus haveres. Não restando nada de valor, propõem levar os filhos como escravos até a quitação completa do dinheiro emprestado. Definitivamente, nada poderia dar mais errado.
Mas nenhum problema é páreo para um coração humilde. Munida de coragem e humildade, reconhecendo sua dramática situação, foi em busca de um conselho, de alguém mais sábio e experiente, que poderia lhe ajudar a encontrar uma saída. Ela faz o que precisa e foi ao encontro do profeta Eliseu, relatou sua triste realidade, ao que ele enfaticamente lhe perguntou: o que você tem em casa? Ela, titubeando responde, que nada, senão um pouco de azeite. Era pouco, mas o necessário para desatar seu pesado problema. A história segue, onde ela é orientada a emprestar vasilhas de seus vizinhos, e a partir do azeite que estava em sua casa, deveria encher as botijas vazias. Um verdadeiro milagre. Em seguida, deveria vender todo esse material, pagar seus credores e viver com o restante.
Você pode estar se perguntando, o que pretendo ao contar essa história. Simples. A vida não é uma linha reta. Assim como as histórias de crianças cheias de emoção recheadas de mocinhos e monstros, de suspense, drama, lutas, choros e vitórias, assim a nossa vida também carrega inúmeras surpresas, nem sempre boas, nem sempre ruins, mas sempre surpreendentes. E por isso precisamos estar preparados financeiramente para os percalços do caminho.
Quero compartilhar três importantes aprendizados. Em primeiro lugar o marido como único provedor da casa, poderia ter deixado algum tipo de reserva para emergências, ter economizado recursos para os dias incertos, e ter feito o máximo para se manter longe das dividas. Nos dias de hoje, poderia ter pensado em fazer um seguro de vida para que sua família estivesse por um tempo amparada. Embora tenhamos imaginado que ele não tenha contraído dividas por desleixo ou imprudência, mas foi levado a essa situação pelo acumulo de eventos inesperados, ainda assim vale o aviso para todos nós: cuidado, os ciclos mudam e precisamos estar preparados! Em segundo lugar, aprendemos que sempre é possível recomeçar. Para isso é preciso ter humildade para pedir ajuda. Vale aqui destacar que ajuda é diferente de auxilio. Muitas pessoas em situações financeiras calamitosas não querem ajuda para mudar seu patamar financeiro e social, querem apenas um auxilio para não morrerem de fome. A ajuda transforma, o auxilio escraviza. E a terceira lição extraída desse riquíssimo relato é de que temos o que precisamos para iniciar ou recomeçar. Pode ser um pouco de azeite, pode ser algumas roupas e sapatos que podem ser vendidos, podem ser a habilidade de escrever ou contar historias, em fim, seja o que for, mesmo que pouco ou desprezível, é o suficiente para dar o primeiro passo. Por isso te pergunto: o que você tem em casa?