Operação Penalidade Máxima: Apenas a ponta do iceberg?

Por Reuel Oliveira

No auge da pandemia, em 2020, as apostas começaram a se popularizar no mundo esportivo. Em 2021 o crescimento seguiu, e em 2022 surgiu a discussão sobre a regularização do tema, mas o assunto nunca saiu do papel.

Até que em 2023 a regulamentação voltou a ser pauta. O problema foi motivado pelo maior escândalo da história do futebol brasileiro.

O que aconteceu?

Após fotos vazadas de uma conversas entre o jogador Eduardo Bauermann do Santos, e um apostador exporem o envolvimento do atleta com esquemas de apostas, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) iniciou a Operação Penalidade Máxima Fase dois. O objetivo era descobrir os idealizadores do esquema, outros jogadores envolvidos e até onde a manipulação de resultados e de acontecimentos durante os 90 minutos se implantou.

A primeira etapa da operação havia sido iniciada e concluída em 2022, e focou  em jogadores de divisões inferiores e com menos dinheiro envolvido. Na época chocou torcedores e atletas, mas o choque maior foi na fase dois da operação.

Segundo as investigações, uma quadrilha realizava apostas em sites especializados na área, e depois oferecia uma quantia de dinheiro ao atleta que em troca realizaria em campo o que fosse pedido. No caso de Bauermann, o zagueiro deveria levar um cartão amarelo e havia recebido R$ 50 mil para executar o ato. 

O problema é que o atleta não executou o combinado, e começou a ser cobrado pela quadrilha. No jogo seguinte, para pagar as perdas do grupo criminoso, o jogador deveria ser expulso, e de fato foi, mas após o término da partida, o que não conta nos sites de apostas. A quadrilha passou a ameaçar o zagueiro até mesmo de morte, caso ele não restituísse do valor perdido, e em meio ao desespero do atleta, a investigação começou.

Sequência 

Após constatar a ligação do atleta com o esquema, a operação seguiu e até o momento pelo menos 50 jogadores foram citados como possíveis participantes, e alguns inclusive tinham o objetivo de aliciar outros atletas a se envolverem também. Os nomes citados envolvem jogadores desde a série C do campeonato brasileiro, até a série A, e ainda conta com um atleta da liga americana de futebol, a MLS.

No dia 17, o STJD suspendeu por 30 dias 8 atletas que estavam envolvidos, como punição preventiva. São eles:

  • Eduardo Bauermann, do Santos;
  • Onitlasi Junior Moraes Rodrigues (“Moraes”), da Aparecidense/GO, ex-Juventude;
  • Gabriel Ferreira Neris, o Gabriel Tota, do Ypiranga-RS, ex-Juventude;
  • Jonathan Doin, que se apresenta como Paulo Miranda, hoje no Náutico e ex-jogador do Juventude;
  • Igor Aquino da Silva (Igor Cariús), Sport, ex-jogador do Cuiabá;
  • Matheus Phillipe Coutinho Gomes, ex-Sergipe;
  • Fernando Neto, do São Bernardo, ex-Operário-PR;
  • Kevin Lomónaco, do Bragantino.

Além dos atletas afastados na punição preventiva, vários dos réus já foram suspensos por seus clubes e alguns tiveram seus contratos rescindidos, como é o caso do atleta Nino Paraíba do América-MG.

Os escândalos de apostas infelizmente são globais. O atleta inglês Ivan Tonney, do Brentford (time da primeira divisão inglesa), recentemente foi suspenso por por oito meses de qualquer atividade esportiva.  

O jogador foi acusado de infringir as leis locais, tanto apostando quanto  manipulando resultados de partidas. Na Inglaterra e em outros países europeus, as apostas já são regulamentadas por lei, o que torna casos como o de Toney, muito mais raros do que são no Brasil.

As investigações da Operação seguem adiante, e há a expectativa da Polícia Federal assumir o comando. Mas será que só cartões amarelos e escanteios foram vendidos, ou os casos também se aplicam a vitórias, derrotas e a títulos? Como ter certeza que apenas jogadores foram aliciados e árbitros não? 

Aguardemos as cenas do próximo capítulo…

Por enquanto fica no ar a necessidade de ser feita a regularização dos sites de apostas, para que a manipulação não volte a sujar a reputação do Futebol Nacional, e garantam a legitimidade do esporte.

Até lá, permanece a desconfiança e a dor dos torcedores, ao terem seus sentimentos manipulados, pela falha de caráter de alguns jogadores.