Estratégias para plantio variam entre a maior adubação e irrigação
Em meio à terceira onda de calor que atingiu não só a Capital sul-mato-grossense, mas também regiões de todo o Brasil e do mundo, em decorrência do fenômeno El Niño, os produtores estão tendo que se adaptar aos desafios que as altas temperaturas impõem. Afinal, além da falta de recursos, o pequeno produtor tem ainda que encontrar alternativas para driblar o calor e manter a qualidade dos alimentos, que vão para a mesa das famílias sul-mato-grossenses livre de conservantes e agrotóxicos.
Projeto recente, a Coopurb (Cooperativa de Agricultura Urbana de Campo Grande) foi iniciada em setembro de 2022, a fim de canalizar esforços junto às atividades econômicas, técnicas e sociais. Hoje, a iniciativa conta com aproximadamente 200 associados e representa um primeiro modelo de negócio que consiste na venda de cestas em três tamanhos diferentes, que variam entre hortaliças, legumes e frutas.
Podem ser adquiridos da cooperativa itens como alface, rúcula, tomate-cereja, almeirão, couve, cheiro -verde, abobrinha, cenoura, beterraba, dentre outros, que variam de acordo com a época do ano e a disponibilidade do produtor. A menor cesta, com seis itens, custa R$ 30. Já a cesta com oito itens sai por R$ 35 e a maior, com 11 itens, por R$ 40.
O presidente da Coopurb, Jair Galvão, explica que o intuito do projeto é apoiar os miniprodutores da área urbana.“São pequenos e mini mesmo. Nós estamos aqui numa horta que tem em torno de 500 ou 600 metros quadrados e são sempre abaixo de cinco mil metros quadrados, geralmente. Eles têm uma dificuldade muito grande na questão da comercialização. A cooperativa veio para garantir apoio direto, além de subsidiar alguns insumos. Adubos, sementes, calcário e os próprios e insumos para plantio, a semente e a muda. Tudo tem que estar atrelado”, afirma.
Galvão pontua ainda que, com as dificuldades impostas pelo calor, são priorizados alimentos que impactam diretamente na produção, pois com as adversidades, alguns produtos sairão menos nutridos e automaticamente menos bonitos. “Você tem que adubar mais, você gasta muito mais água, tem lugares, inclusive, que o poço, a fonte de água ali, secou, então temos que providenciar outro poço. Quer dizer, é gasto de dinheiro Para se produzir com um clima muito forte, a gente precisa vencer de outras maneiras, plantar outras culturas que utilizem menos água e percam menos, porque as folhas sofrem muito. A questão do poço, por exemplo, é fundamental, porque não é possível produzir alguma hortaliça sem água”, destaca.
Instabilidades climáticas
O economista do Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho, Staney Barbosa Melo, explica que, com a chegada do El Niño, as instabilidades climáticas são um ponto focal para os produtores de frutas e verduras aqui, no Estado. “Estes mercados são muito suscetíveis a alterações extremas de clima, característica dos períodos de El Niño, como a escassez de chuvas em algumas localidades ou o excesso de chuvas irregulares em outras regiões produtoras. Isso gera complicações das mais diversas formas, a depender de cada cultura, como atrasos no plantio, antecipação de colheita, risco de perdas de sementes, redução de produtividade, necessidade de replantio, entre outras adversidades, o que resulta em menor oferta e consequentes aumentos de preços nas gôndolas dos mercados”, argumenta Melo. Cabe lembrar que Mato Grosso do Sul segue sendo considerado como o Estado com as maiores temperaturas registradas no país. Conforme o meteorologista Natálio Abrahão, ontem (9), a umidade relativa do ar foi de 38% e a temperatura chegou aos 37,1ºC, em Campo Grande.
Calor e perda – Uma realidade
A agricultora familiar Erinalda S. Vieira, 58, que cultiva no Portal Caiobá, Rancho Alegre, pontua que o plantio tem sentido os efeitos das altas temperaturas. O calor intenso tem queimado as folhas. “Quando nascem, não crescem. A rúcula já era pra estar com quatro dedos de crescida, pois é colhida em 30 dias. Agora, vou ter que colher com 40 ou 50 dias, se não ela queima com o sol”, pontua a agricultora.
O agricultor Roberval Sebastião da Silva, 54, é um dos que não contam com a sombrite e produz direto na terra. Localizado próximo à BR-163, na Comunidade Quilombola Chácara Buriti, o produtor argumenta que o calor intenso realmente tem prejudicado a plantação.“Está devagar, está muito ruim para o desenvolvimento da planta. Estou com um alface novo, de 15 ou 20 dias e era para ele estar maior, mas não está desenvolvendo por causa do calor, atrasa demais, não cresce, não desenvolve e chega a uma certa altura que não cresce mais. Nessa época, é difícil dar uma alface bonita, demora para desenvolver”, destaca o produtor.
Silva argumenta que hoje as dificuldades para manter a produção e a comercialização são várias, incluindo mão de obra, que não tem. “Eu tenho que achar gente para me ajudar. A maior dificuldade que nós temos hoje é para transportar o produto. Precisamos de um caminhão-baú, um furgão fechado. Nós estamos esperando por 20 anos, aí carregamos em carro com carroceria, cobrimos com um pano, aí murcha, amassa e o nutricionista reprova. Já reprovou várias vezes nosso produto, já perdi muitos produtos, já teve vezes de eu perder caminhão com 600 quilos de couve e alface, nós colocamos um pano em cima, molhado, mas, mesmo assim, amassa a folha. Já solicitamos para a Agraer, para a prefeitura, deputado Zeca e vamos ver”, pontua o agricultor.
O agricultor familiar urbano Paulo Rodrigues, 65, explica que as principais dificuldades enfrentadas pelas plantas, principalmente as folhagens, são o clima e os pulgões, além de outras pragas que, com o calor, vêm a ter maior incidência. “Se bobear e não jogar água, elas queimam. Eu tenho aguado de três a quatro vezes ao dia. Aqui, a gente foca mais na cebolinha e na couve, alface também, de agora em diante, e cheiro-verde. Nós focamos mais na venda para supermercados, os clientes da cooperativa e para as pessoas que vêm aqui”, argumenta o produtor.
Fonte: O Estado de Mato Grosso do Sul