Pesquisa realizada em Campo Grande avança em busca da cura do câncer

Tratamento apontou aumento de 75% de chance de cura até em pacientes com metástase

A medicina personalizada identifica, previne e trata doenças por meio da análise genética de cada indivíduo, incorporando no tratamento as particularidades do organismo de cada paciente.

O método é utilizado em diversos hospitais do País, inclusive em Campo Grande. Com a análise, a taxa de resposta do tratamento para qualquer tipo de câncer aumenta para 75%.

De acordo com o oncologista e diretor clínico do Hospital de Câncer Alfredo Abrão, João Paulo Vendas Villalba, as chances de cura aumentam pois a medicina personalizada permite reconhecer a origem do tumor e as vias do organismo que utilizou para se multiplicar e gerar metástases.

“Hoje em dia, tudo é personalizado, sob medida para o paciente. Cada um tem uma mutação diferente e recebe uma mutação diferente. Nós coletamos o material e vemos o caminho que a mutação usou para se multiplicar. Identificamos a via de multiplicação para o paciente ter uma tratamento adequado”, explica o oncologista.

Villalba afirma que nos últimos cinco anos a medicina personalizada se tornou essencial para o tratamento de câncer.

Além do aumento na taxa de cura, o tempo de tratamento diminuiu para diversos tipos de tumores, um exemplo é o câncer de pulmão em metástase, que de 56 meses foi para 10 meses de tratamento.

“Para o câncer, não dá mais para tratar sem essa análise. Como ela gera muito menos toxicidades, age no alvo específico do tumor e responde melhor”.

TESTES PELO SUS
Os testes com análise genética já são realizados em muitas clínicas particulares em Mato Grosso do Sul.

No entanto, Villalba ressalta que pelo Sistema Único de Saúde (SUS) são poucos atendimentos, pois os investimentos são altos e não há contrapartida do governo especificamente para isso.

“É um investimento caro, mas isso em médio e longo prazo se torna uma grande economia. São menos custos para o convênio, evita custos com radioterapia e a quimioterapia. O governo não vê isso como uma vantagem”.

O oncologista explica que são feitos tratamentos personalizados pelo SUS com financiamento de empresas particulares em algumas áreas. As empresas ajudam o Hospital de Câncer fornecendo medicamentos específicos para o tipo de tratamento a preço do SUS.

“Com esse financiamento, o tratamento, que custa em torno de R$ 20 mil, é feito sem custo nenhum para o paciente”.

De acordo com Villalba, são atendidos, em média, dois pacientes por mês com a medicina personalizada pelo SUS no hospital.

O método é utilizado desde 2018, com isso, cerca de 46 pacientes já tiveram tratamento personalizado para câncer pelo SUS.

Para receber esse tratamento, é necessário ter uma Autorização de Procedimento Ambulatorial (Apac), recurso para autorização, cobrança, pagamento e fornecimento de informações gerenciais para procedimentos ambulatoriais do Sistema.

Villalba relata que mesmo com poucos procedimentos o SUS evoluiu com os tratamentos e o Brasil tem condições de implantar a medicina personalizada em grande escala.

“É um caminho sem volta. A evolução desses tratamentos está sendo empurrada para o SUS e vai chegar um momento que a mudança será inevitável. Eu acredito que isso ocorrerá no próximos anos”.

METÁSTASE
De acordo com o Instituto Oncoguia, a metástase é quando o câncer se multiplica para outras partes do corpo além do local em que ele surgiu.

Ela acontece quando a célula cancerosa se desprende do tumor primário e entra na corrente sanguínea ou no sistema linfático, que vai transportar para outra parte do organismo.

Muitas dessas células morrem sem causar problemas, porém algumas fixam e formam novos tumores.

Para se estabelecer em um novo local, a célula precisa ter capacidade de crescer, se multiplicar e evitar ataques do sistema imunológico do corpo.

PROJETO GENOMAS
De acordo com relatório da empresa de saúde Roche, o Brasil é um dos países que têm condições de implementar o sistema personalizado, pois já utiliza os biomarcadores para determinar medicações específicas.

No entanto, o SUS atende cerca de 75% da população brasileira e mesmo assim as contribuições públicas são baixas para gastos com saúde em comparação com outros países da América Latina.

Para a empresa, mesmo com o baixo investimento, o Projeto Nacional de Genômica e Saúde de Precisão, ou Genomas Brasil, representa o início do investimento na análise genômica pelo Sistema.

Com o programa, será criado um banco de dados com 100 mil genomas completos de brasileiros que tenham doenças raras, cardíacas, câncer e infectocontagiosas, como a Covid-19.

O Ministério da Saúde analisou a quantidade de casos de cada doença no País e o custo que gera para o SUS.

  • fonte: Correio do Estado