Dorme tarde. Acorda cedo. Vai para o cursinho. Estuda. Volta para casa. Come rápido. Estuda mais um pouco. Qualquer minuto precisa ser aproveitado. Enquanto você descansa, seu concorrente lê, faz contas, escreve. Seria esse o raciocínio correto de quem está se preparando para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)? Pesquisadores e professores garantem: não. É essencial reservar um tempo para atividade física.
Eles não falam apenas da questão do bem-estar, do controle de peso ou da redução da pressão arterial. Reforçam que se movimentar melhora a capacidade de memorização, aumenta a concentração nos estudos, evita a ansiedade e o estresse e ainda melhora o sono.
“É um grande erro achar que a cabeça está separada do resto do corpo. É um pecado achar que atividades físicas só trazem benefícios do pescoço para baixo”, afirma João Paulo Borin, professor do departamento de ciência e esporte da Unicamp.
“A prática regular ativa todo o sistema funcional do organismo, principalmente a estrutura cardiorrespiratória e o cérebro. O desempenho do estudante melhora, sem dúvidas.”
Segundo o personal trainer Tauã Souza, da academia Competition (SP), o ideal é fazer 30 minutos de atividade moderada a alta por dia.
Quer se lembrar do conteúdo que estudou?
Um estudo da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, mostrou que exercícios aeróbicos, quando praticados com regularidade, aumentam o tamanho do hipocampo – área do cérebro relacionada à memória e ao processo de aprendizagem. É um benefício de atividades que aceleram os batimentos cardíacos e fazem a pessoa suar.
Além disso, a prática de exercício físico melhora a qualidade do sono. “Estar dormindo é um período privilegiado para consolidação de memória, porque permite a reativação de conexões neuronais”, afirma um artigo científico publicado pela Associação Americana para o Avanço da Ciência.
“O descanso é extremamente importante, porque as sinapses ocorrem enquanto dormimos. A privação de sono é maléfica para a aprendizagem”, explica o cardiologista Alexandre Galvão, do Hospital Samaritano (SP).
Quer se concentrar mais facilmente nos estudos e nas provas?
Um grupo de cientistas dos Estados Unidos, liderado por Charles Hillman, da Universidade de Illinois, acompanhou, durante um ano, um grupo de crianças que faziam atividades físicas após a escola. Os pesquisadores perceberam que o controle de tarefas executivas melhorou nesse período: os alunos se distraíram menos durante as aulas, passaram a conseguir fazer mais de uma atividade ao mesmo tempo e melhoraram a habilidade de armazenar informações.
“Esses benefícios podem ser sentidos já no primeiro mês da prática regular de exercícios físicos. A disposição e a concentração melhoram rapidamente”, completa Alexandre.
Quer se sentir melhor diante de tanta pressão?
O famoso “bem-estar” trazido pelas atividades físicas também pode ajudar no preparo para o Enem. Com a pressão para ter bons resultados no exame, os momentos de relaxamento são essenciais para que o estudante não tenha ansiedade ou estresse.
“A liberação de endorfina traz prazer – a cabeça não pode estar sobrecarregada o tempo inteiro. Isso tira o foco. E não precisa gastar dinheiro indo para uma academia. É possível achar uma atividade que se encaixe ao perfil do estudante: pode ser basquete, natação, caminhada no parque, bicicleta”, diz o cardiologista. “Até usar a escada ou descer em uma estação do metrô antes da de sempre são investimentos que valem a pena. Pequenas mudanças ajudam”, completa.
Paulo Roberto Gentil, da Faculdade de Educação Física e Dança da Universidade Federal de Goiás, fez dois estudos que mostram como atividades simples podem ser suficientes para trazer benefícios. Ele examinou os efeitos dos jogos de dança de videogame e de treinos de 20 minutos na bicicleta. “Ambos ajudaram no combate à ansiedade. Nossa grande luta é mostrar que o exercício pode ser descomplicado e acessível”, afirma.