Carta assinada por seis presidenciáveis é o movimento mais explícito para romper a polarização que desponta entre Bolsonaro e Lula para 2022. Parlamentares moderados afirmam que postulantes terão de ceder em nome de candidato único
Mais do que um manifesto em defesa da democracia, a carta assinada por seis presidenciáveis para 2022, divulgada na quarta-feira, convoca os partidos de centro a se unir em torno de um nome capaz de competir com o presidente Jair Bolsonaro, bem como disputar voto contra a esquerda, que pode ter o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como principal candidato. Assinam o documento Ciro Gomes (PDT), Eduardo Leite (PSDB), João Amoêdo (Novo), João Doria (PSDB), Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Luciano Huck.
Na avaliação de parlamentares filiados a partidos de centro, chegou o momento de marcar posição. Com Bolsonaro em baixa popularidade por conta da gestão da pandemia da covid-19 e da insatisfação de parte da sociedade em meio às possibilidades de Lula ter chances de concorrer ao Palácio do Planalto, cresce o entendimento de que o centro precisa construir um discurso unificado e conciliar as propostas para oferecer à população uma alternativa diferente, mesmo que alguns nomes tenham de abrir mão de lançar candidatura própria.
“Para se ter uma candidatura competitiva, é necessário unidade. Se houver, realmente, uma intenção do centro de conquistar a vitória no ano que vem, não podemos nos dividir”, analisou o senador Izalci Lucas (PSDB-DF), líder da legenda no Senado. Segundo ele, o trabalho deve ser o de evitar polarizações dentro do próprio centro, o que só tende a favorecer a esquerda e a direita. “Basta ver o número de candidatos que temos em todas as eleições. Se permanecer dessa forma, é evidente que não há nenhuma chance de se vencer as eleições.”
Um dos vice-presidentes nacionais, o deputado Célio Silveira (GO) compartilha da mesma opinião. “Diante dos acontecimentos mais recentes no meio político, sobretudo com a volta do Lula, o jogo para o ano que vem muda totalmente, e o centro formado por esses que assinaram a carta só tem a chance de disputar o segundo turno se estiver unido”, observou.
A única desconfiança do centro com o manifesto divulgado pelos seis presidenciáveis é com a assinatura de Ciro Gomes, um dos principais políticos do campo progressista do país. Para não deixar a esquerda apenas com Lula, o temor de alguns políticos é de que o pedetista não aceite abdicar de concorrer sozinho. Por outro lado, mesmo João Doria estaria disposto a não ser o líder da chapa, sobretudo por conta da sua rejeição em São Paulo.
A iniciativa dos presidenciáveis recebeu elogios de Lula, mas ele criticou os signatários da carta por terem contribuído para a vitória de Bolsonaro em 2018. “Sou favorável e aplaudo qualquer manifesto que defenda a democracia, agora, todos esses tiveram a chance de garantir a democracia votando no Haddad. Essa gente preferiu votar no Bolsonaro. Ou seja, você faz um manifesto e sequer reconhece o erro? O Ciro foi para Paris, não votou”, reclamou o petista, em entrevista à Rádio BandNews FM, ontem.
Afastamento por 180 dias
A Assembleia Legislativa de São Paulo aumentou para 180 dias a suspensão do mandato do deputado estadual Fernando Cury (Cidadania) por importunação sexual contra Isa Penna (PSOL), em dezembro do ano passado. A proposta inicial de punição, aprovada em março pelo Conselho de Ética da Casa, previa 119 dias. Com a ampliação da pena, Cury perde direito a salário e à manutenção do gabinete. Votaram pela punição 86 deputados em sessão virtual. Cury disse ter recebido a decisão “com serenidade e de forma respeitosa”. Ele nega ter assediado a deputada.
- Fonte: Correio Braziliense