Texto por Reuel Oliveira
O Mato Grosso do Sul dá um passo importante nas cirurgias de transplante de órgãos. O estado deve ter até o final do mês o aval para iniciar a utilização do primeiro Centro para Transplante de Fígado do MS.
Isso porque, conforme a coordenadora da Central de Transplante de MS, dra. Claire Miozzo, entrevistada do Jornal da Hora desta sexta-feira (05), o Ministério da Saúde já habilitou o centro a realizar as cirurgias de transplante de fígado.
A habilitação veio após o Hospital Adventista do Pênfigo receber um aporte financeiro no valor de R$1 milhão, que ajudou a atender as demandas do centro. O aporte foi passado a partir de uma emenda parlamentar do Deputado Federal Beto Pereira (PSDB).
Conforme a dra. Claire, o que falta para o centro ser utilizado é uma contratualização, que deve ser realizada até o final do mês.
“A nossa habilitação para [realizar] transplante de fígado já está toda certinha diante do Ministério da Saúde e do Sistema Nacional do Transplante. Está faltando bem pouquinho para nós começarmos a executar o serviço, o que faltava, que já está nos finalmentes é a contratualização da Secretaria Municipal de Saúde com o Pênfigo, porque tem que existir um para prestação do serviço. Já está nos finalmentes, até o final do mês eu creio que está tudo certo”, disse.
O médico cirurgião e especialista em transplante de fígado, Dr. Gustavo Rapassi, também entrevistado no Jornal da Hora desta sexta-feira, falou sobre a funcionalidade do centro. Ele destacou que ao estar em operação, poderão ser realizadas no MS, cerca de 70 transplantes de fígado por ano.
“Devido a complexidade desses pacientes, 70 não é um número muito baixo. Esse número nós temos baseado nos dados da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos em que pelo número de população eles estimam a quantidade de transplantes”, destacou.
Conforme o Dr. Gustavo, as cirurgias de transplante se complementam entre suas modalidades, entram com o tempo, o centro poderá ser utilizado para atender outras demandas.
“Quando nós falamos de transplante falamos de um procedimento de altíssima complexidade e que outros métodos de transplante ou outras modalidades de se complementam. Então a estrutura do fígado por ser uma das estruturas mais complexas que a gente tem, daqui a um tempo estará disponível pra outras modalidades de transplante, para que a gente consiga multiplicar o índice de pacientes que são beneficiados por essa estrutura”, disse.
Processo de doação
Com o avanço na estrutura para realizar as cirurgias, Mato Grosso do Sul também tem tido um aumento no índice de doadores, Os números ainda permanecem baixos e o estado possui uma resistência à doação de órgãos, mas conforme o Dr. Gustavo, a melhora é uma boa notícias.
“Esse número [de doadores] já foi muito pior. O estado de Mato Grosso do Sul já teve um dos maiores índices de recusa familiar à doação, chegando a casa até de 80% de recusa, enquanto que a média nacional é em torno de 36% a 40%. Nas últimas semanas nós tivemos uma mudança desse paradigma, tivemos nove ou 10 doações nas últimas cinco semanas, isso é um número expressivo […] e aí a gente consegue ir mudando um pouco a cultura”, falou.
Para a dra. Claire, é essencial que a pessoa deixe registrada sua vontade de se tornar um doador de órgãos. Ela destaca que se a família já reconhece o desejo, o processo se torna mais fácil.
Conforme ela, a doação de órgãos é um direito que pode ser recusado pela família. Ela destaca que nesses casos, a ação de equipes treinadas para auxiliar e acolher os familiares é essencial para que haja o entendimento e a decisão.
“Nós temos dentro dos hospitais, comissões intra-hospitalares de transplante que conversam e acolhem a família e dão o direito, porque a doação é um direito da família, existe a liberdade de dizer se vai doar ou não. Então a família quando ela é acolhida adequadamente, quando ela entende o processo […] as famílias são muito solidárias, o povo brasileiro é muito solidário”
Como ser um doador?
Conforme o Ministério da Saúde existem dois tipos de doador, o vivo e falecido. O doador vivo pode ser algum cidadão que aceite realizar o transplante desde que não prejudique sua saúde, como um dos rins, parte do fígado e etc. O segundo tipo é o doador falecido, que ocorre quando há o diagnóstico de morte encefálica. Para ser um doador, o passo essencial é conversar com a família e expor o desejo.