Focos de incêndios florestais registrados em setembro no Estado já ultrapassam número do mesmo período de 2022; área devastada é de mais de 900 hectares
Com a onda de calor que atinge todo Mato Grosso do Sul, incêndios florestais voltaram a se alastrar no Estado e já consumiram cerca de 994 hectares, área equivalente a 1.118 campos de futebol. De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), os focos de calor em setembro já ultrapassaram o número registrado no mesmo período de 2022.
Em razão da grande quantidade de chuvas no início deste ano, o período de seca demorou a chegar no Estado. Esse pode ser um dos motivos que impediram que o número de focos de incêndio registrados neste ano ainda não tenham ultrapassado os de 2022. No entanto, com o calor intenso das últimas semanas, os focos voltaram a se intensificar, gerando novas queimadas de grande proporção em diferentes regiões de MS.
Segundo o Inpe, em setembro de 2022, foram registrados 258 focos de calor no Estado. Neste ano, até o momento, o número já chega a 366 focos, restando ainda três dias para acabar o mês de setembro. Em agosto, o número de incêndios também ultrapassou o registrado no mesmo mês de 2022, com 37 focos a mais.
Além disso, no ano passado, foram registrados 1.599 focos de incêndio, com queda significativa a partir de setembro e outubro. Já neste ano, o número total de focos é de 1.499, com aumento na quantidade diária de incêndios registrada.
Desse modo, é possível que o número de incêndios florestais deste ano ultrapasse os do ano passado, já que faltam apenas 100 focos para atingir a marca e recordes de temperaturas máximas são registrados com frquência.
De acordo com o coordenador do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), Marcio Yule, até ontem, equipes de bombeiros militares combatiam três grandes focos de incêndio em diferentes áreas do Pantanal.
“Temos seis brigadas indígenas e uma brigada Pronto Emprego Pantanal, em Corumbá, com 142 brigadistas aqui em MS. Temos combates nas áreas das brigadas indígenas, temos um contingente na Serra do Amolar atuando na prevenção e nos inícios de incêndios que ocorrem na região. Estamos apoiando também nos incêndios na região do Rio Negro”, detalha Marcio Yule.
As maiores queimadas registradas neste ano ocorrem no entorno do Parque Estadual do Pantanal do Rio Negro, unidade de conservação que serve de refúgio para a fauna pantaneira, e no município de Bonito.
“Estamos atuando em três focos de incêndio no Pantanal. São na região do Paiaguás, onde estamos em monitoramento, e outro próximo a Corumbá, onde estamos com duas guarnições de especialistas em combate a incêndio florestal. O terceiro é na região do Rio Negro. Lá estamos com duas guarnições de especialistas, e o grupamento aéreo foi mobilizado para esse combate”, explicou a tenente-coronel Tatiane Inoue, que é chefe do Centro de Proteção Ambiental (CPA).
O fogo na região do Rio Negro começou na manhã de domingo, quando duas guarnições de especialistas em combate a incêndios florestais foram deslocadas para o local. À frente das operações, a tenente-coronel Tatiane Dias conversou com o Correio do Estado e explicou que as condições de estiagem, calor extremo e ventos fortes propiciam o avanço das queimadas. Até o momento, foram 571 hectares da reserva consumidos pelo fogo.
“Esse período de estiagem, principalmente quando vai se aproximando de meio-dia até o fim da tarde, essas condições atmosféricas acabam favorecendo a propagação de incêndios florestais porque a temperatura aumenta e a velocidade do vento, também. Fora o desgaste dos combatentes, porque a gente tem registros de temperatura nesta semana na região do Pantanal de até 43°C”, detalha a tenente-coronel Tatiane.
Outras duas áreas queimam próximo a Corumbá e no Pantanal de Paiaguás, em Coxim. Os bombeiros usam aeronaves para controlar as chamas, que estão sendo combatidas há uma semana na região pantaneira.
O fogo se alastrou nessas áreas depois de queimar 637 hectares em Bonito, principal destino turístico do Estado. No município, as queimadas duraram cinco dias e foram extintas na sexta-feira.
“Mesmo onde conseguimos controlar o incêndio, é preciso manter o monitoramento pelo risco de reignição, em razão da alta temperatura e da baixa umidade”, disse Tatiane Dias.
As aeronaves, com capacidade para até 3 mil litros de água, são usadas para combater as chamas em regiões de difícil acesso. Além da destruição de ecossistemas, como os cordões de matas das lagoas permanentes e o brejão do Rio Negro, as chamas atingem ninhos de pássaros e répteis, como lagartos e jacarés, segundo o relato dos bombeiros. “Temos previsão de condições climáticas severas para risco de incêndio, com mais calor e sem chuvas nos próximos dias”, conclui a tenente-coronel.
PANTANAL
A evolução dos incêndios em setembro é especialmente preocupante para a região do Pantanal. De acordo com o Pantanal em Alerta, neste ano, apenas 11,6% dos incêndios foram registrados em agosto, com 88% dos focos que devastaram a região tendo ocorrido neste mês.
Além disso, houve um aumento de 15% no número de propriedades atingidas neste mês, destacando a rápida propagação das chamas. Ao todo, uma extensão de 92.642 hectares foi consumida pelas chamas, afetando cinco municípios de Mato Grosso e três de Mato Grosso do Sul.
CALOR
De acordo com dados do Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de Mato Grosso do Sul (Cemtec-MS), 12 municípios registraram temperatura acima de 40ºC nesta terça-feira.
Entre as cidades estão Água Clara (41,9ºC), Bataguassu (40ºC), Corumbá (41ºC), Coxim (40,5ºC), Fátima do Sul (40,3ºC), Miranda (40,2ºC), Nova Andradina (40,2ºC), Paranaíba (41,1ºC), Pedro Gomes (40,6ºC), Porto Murtinho (42,6ºC), Santa Rita do Pardo (40ºC) e Três Lagoas (41,4ºC).
Além disso, nesta segunda-feira, MS bateu novo recorde de temperatura máxima neste ano, com 42,9ºC registrados em Porto Murtinho.
Para os próximos dias, o Cemtec-MS espera temperaturas máximas de até 39ºC, principalmente nas regiões pantaneira e bolsão. Nas outras regiões do Estado, máximas de até 31°C.
SAIBA
A maior quantidade de incêndios em Mato Grosso do Sul ocorreu em 2020, quando foram registrados 12.080 focos de calor, segundo dados do Inpe. Apenas na região do Pantanal, o fogo consumiu 16,4 mil hectares.
Fonte: Correio do Estado