Senadores divergem sobre instalação da CPI da Covid-19

Líderes de oposição ao governo Bolsonaro têm pressionado o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), a abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar possíveis negligências do governo Bolsonaro nas medidas de combate ao novo coronavírus (Covid-19).

A bancada sul-mato-grossense diverge sobre o assunto, Nelson Trad (PSD) e Soraya Thronicke (PSL) acham que agora é o momento de uma união no enfrentamento da pandemia e essa investigação poderia atrapalhar ainda mais a interlocução entre o governo federal com estados e municípios.

Já para Simone Tebet (MDB), além da apuração de possíveis negligências, a comissão poderia trazer mecanismos para evitar colapsos no sistema de saúde, como ocorreu no Amazonas, no início do mês de janeiro.

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Para o líder da segunda maior bancada do Senado, Nelson Trad, a abertura de uma CPI deve ser realizada com muita cautela, pois a prerrogativa para que uma Casa de Leis tome essa postura é de que deve haver uma fato determinado. 

“Nesse caso, o questionamento é muito genérico e amplo, ou seja, não existe algo específico e isso é um caminho tortuoso a ser percorrido. Hoje, o País precisa de união, para que possamos agilizar a imunização do nosso povo, articulando um processo de compra das vacinas. Uma CPI não faz a vacina chegar no braço de ninguém, muito pelo contrário, pode polarizar o debate, dificultando ainda mais o diálogo entre os entes federativos”, disse.

DIVISÃO

A polarização ganha força nos discursos contra as medidas de prevenção, como os que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) faz frequentemente. 

Ele, por exemplo, tem criticado medidas de distanciamento social praticadas nos estados, questionado o uso de máscaras e ainda estimulado o tratamento precoce da Covid-19 com medicamentos sem comprovação de eficácia, como a hidroxicloroquina e a ivermectina. 

Além disso, tem imputado a governadores e prefeitos a responsabilidade do colapso do sistema de saúde e a crise econômica, ambos provocados pela pandemia.

A última ofensiva do presidente contra os representantes dos entes federativos foi uma publicação nas redes sociais em que ele lista o destino de recursos federais aos estados e municípios, porém não discrimina que o montante se trata de recursos para todas as áreas, como saúde, educação, entre outras. 

A postagem do presidente foi criticada por governadores, pois dá a entender que o montante foi destinado apenas para o combate da pandemia. O fato provocou uma reação dos chefes dos Executivos estaduais que publicaram o documento em que acusa o Planalto de “deturpar a verdade”.

Trad não exime o Planalto por propagar essa polarização, bem como especificamente o ministro da Saúde Eduardo Pazuello. 

“Falta ao Ministério da Saúde uma tomada de posição mais clara e tomar à frente das ações de combate à pandemia. No entanto, o que vemos hoje é que cada ente federativo tem tomado suas estratégias de combate à pandemia”.

“Essa falta de interlocução ocasiona ruídos e atrasos na compra de imunizantes ou envio de recursos, como vimos na falta de oxigênio no Amazonas. Devemos ter uma sala de gerenciamento de crise com representantes de todos os poderes e da sociedade civil, para que possamos organizar ações para aquisição de vacinas, bem como medidas mais duras de enfrentamento à propagação do vírus”, exemplificou.

OUTRA SENADORA

Na mesma linha de Trad, a senadora Soraya Thronicke (PSL) também defendeu que hoje é necessário uma união nacional para o enfrentamento da crise sanitária.  

Ela ainda afirmou que hoje já existe uma Comissão Mista (senadores e deputados) que acompanha as ações do governo federal frente à pandemia.

“Estamos cumprindo com obstinação nosso papel no Congresso Nacional no enfrentamento à Covid-19. Ainda assim, se o Congresso entender que devemos investigar essa questão instalando uma CPI da Covid-19, defendo que governadores e prefeitos sejam chamados para serem ouvidos, uma vez que eles são os ordenadores de despesa, ou seja, são os responsáveis diretos pelos gastos”.

“Mas, neste momento, entendo que devemos unir forças e energias para trazer mais vacinas, imunizar a população e garantir assistência aos mais necessitados para vencermos a luta contra o novo coronavírus”, projetou.

Já a senadora Simone Tebet (MDB) anunciou que já assinou o documento para a abertura da CPI, ao contrário dos outros dois colegas de bancada, é a favor da investigação, que tem o objetivo de apurar se houve omissão de autoridades públicas, como na crise do Amazonas. 

“Aquele drama fez com que bebês prematuros fossem levados para outros estados para poder sobreviver. Portanto, a comissão, além de investigar, terá a função de impedir que absurdos como esses venham acontecer novamente em nosso País”.

“O colegiado, caso seja autorizado, poderá ajudar o Brasil a sair dessa grave crise, pois enquanto não houver vacinação em massa não voltaremos a aquecer o mercado de trabalho e, consequentemente, haverá ainda mais crise econômica”, concluiu Tebet. 

  • Fonte: Correio do Estado