As mudanças às vezes são inevitáveis, mas será que são justas?
Por Arthur Mário e Reuel Oliveira
Quem já teve um técnico no seu time que foi mandado embora? Ou quem já torceu pela demissão de um treinador? E até mesmo quem já viu ir embora um “professor” por quem tinha afinidade? A resposta para todas essas perguntas é a mesma: Todos nós.
A verdade é que no futebol, não é diferente de outras áreas da vida: o indivíduo mais cobrado de um grupo é sempre o líder. Se uma empresa multinacional se expande, o dono é um visionário, mas se ela perde ações, o mesmo é considerado um mau administrador. Se um colégio tem bons alunos, a diretora fez uma ótima gestão, mas quando o índice de reprovação é alto, a diretora fez um serviço “meia boca”.
Quando um time conquista títulos, o treinador tem o elenco nas mãos, mas quando o time entra em crise, o maior culpado do mundo, é o mesmo que antes era o herói, o líder é sempre mais cobrado. E em um país onde o sucesso de uma equipe é avaliado apenas pelo levantar de troféus, é difícil achar um treinador que nunca foi mandado embora injustamente, ou que teve uma sentença muito maior que a necessária.
Não estou defendendo que nenhum técnico mereça ser mandado embora, porque às vezes trabalhos não fluem, mas a questão é que alguns simplesmente não merecem ser punidos, ou não são os maiores culpados da má fase de seus times, e essa é a discussão. E para abordar esse ponto, vamos falar dos casos de dois treinadores recentemente demitidos: Paulo Turra, ex Athlético Paranaense e Maurício Barbieri, ex Vasco.
Começaremos com o ex Vasco e Red Bull Bragantino, o Paulista Maurício Nogueira Barbieri, Maurício Barbieri para os mais íntimos. O treinador havia sido contratado como o primeiro nome da era “777” nova investidora do time, e existia uma expectativa de que fosse feito um bom trabalho com os jovens do time, com ideias inovadoras e um futebol que lhe garantisse permanecer na Série A.
O plano não saiu como combinado, e apesar de um bom, campeonato carioca, Barbieri não escapou das decepções dentro de campo, e teve auxílio das entrevistas coletivas para passar uma mensagem: o time não vai melhorar. As risadas após o vexatório 4×1 para o Flamengo não ajudaram o professor a melhorar sua imagem e a demissão foi comemorada pelos torcedores da nova SAF (Sociedade Anônima de Futebol). Barbieri, teve uma sequência de seis derrotas seguidas, um jejum de dois meses sem vencer, e termina o trabalho de seis meses com baixo aproveitamento e poucos reflexos de um time com alguma metodologia nos treinos.
Números de Barbieri pelo Vasco:
- 24 Partidas
- 9 Vitórias
- 4 Empates
- 11 Derrotas
- 43% de Aproveitamento
Seguimos agora para o próximo nome desta coluna, Paulo Turra. O treinador já foi anunciado por seu próximo time, mas esse ponto não entra na nossa discussão. O treinador teve a difícil missão de proceder o trabalho de Luiz Felipe Scolari, técnico campeão do mundo com a seleção brasileira, e que em seu último ano de trabalho levou o Athlético a uma final de Libertadores.
Paulo Turra não tinha um futebol encantador e essa era a principal crítica de seu trabalho, e o motivo de sua demissão: não saber aproveitar “todo o potencial do time”. E é nesse ponto que entra a injustiça das demissões – o time de Paulo podia não ter um futebol encantador, mas sabia vencer.
O treinador encerrou seu trabalho com impressionantes 73,1% de aproveitamento, mesmo jogando Campeonato Estadual, Brasileirão, Libertadores e Copa do Brasil. Turra levantou a taça do campeonato paranaense, encaminhou a classificação em primeiro lugar do time na libertadores, chegou às quartas da Copa do Brasil e deixou o time com plenas condições de brigar pelas altas posições na tabela do campeonato brasileiro.
Então, por que demitir? Em um ano onde Flamengo e Palmeiras tiveram momentos de oscilação, e times como Corinthians e Atlético Mineiro passaram por momentos caóticos, ter um técnico que garanta 73% de aproveitamento e monte um time difícil de ser batido não é uma má escolha.
Números de Paulo Turra pelo Athletico:
- 36 Partidas
- 25 Vitórias
- 4 Empates
- 7 Derrotas
- 73,1% de Aproveitamento
A realidade é que nos dois exemplos vemos um técnico que realmente havia chegado ao fim de seu ciclo no time, sem expectativas de melhora (talvez esse seja o pior ponto de seu trabalho), e um técnico que é o recorte de tudo aquilo a que esse texto procura se opor.
Turra fazia um bom trabalho, com bons resultados e ideias de jogo. O time estava bem competitivo e as partidas contra o Atlético Mineiro, Flamengo e Botafogo mostraram que o elenco sabia responder a jogos difíceis. E mesmo assim houve a demissão. O trabalho não era perfeito, a falta de dominância e de encanto em campo eram os pontos que geram mais questionamentos ao talento do treinador, mas passou longe de ser merecedor de demissão. A punição, por assim dizer, foi severa e injusta, e deixa uma sombra para o trabalho do próximo técnico a assumir o furacão, porque jogar bem ou ter resultados não é mais aceitável, o sucesso só será alcançado, quando o time de fato apresentar os dois.
Agora, o gaúcho segue para o Santos e deve fazer um trabalho de reorganização no time, enquanto Barbieri ainda não tem um novo clube, mas não deve demorar a ser anunciado, até porque a dança das cadeiras segue entre nós. Às vezes inevitável, ineficaz e injusta, mas ela está entre nós.
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