Nenhum candidato venceu nos dois primeiros estados das prévias republicanas e perdeu a indicação do partido para a Casa Branca antes; Nikki Haley, que mostrou força com independentes, diz, no entanto, que ‘campanha só começou’
Na segunda etapa das primárias presidenciais republicanas, que aconteceram nesta terça-feira no estado de New Hampshire, o ex-presidente Donald Trump levou a melhor sobre a ex-governadora da Carolina do Sul, Nikki Haley, sua única adversária. Com pouco menos de 20% das urnas contabilizadas, o ex-presidente foi declarado vitorioso pela Associated Press. Até às 23h em Brasília, Trump tinha 55,6% contra 42,8% dos votos para Haley.
O ex-presidente consolidou seu favoritismo na oposição para enfrentar em novembro o presidente Joe Biden, candidato à reeleição. Nenhum candidato republicano venceu em Iowa (que foi às urnas no último dia 15) e em New Hamsphire e perdeu a indicação do partido para a Casa Branca antes. O resultado desta terça-feira, entretanto, acendeu o sinal amarelo na candidatura Trump, por conta dos votos recebidos por Haley nas áreas tradicionalmente mais democratas do estado.
O bom desempenho de Haley em um estado mais moderado do que Iowa, onde cidadãos não filiados podiam votam na corrida republicana, era crucial para que a candidata se consolidasse como opção viável para barrar Trump. Poucos minutos após o anúncio da vitória do ex-presidente, a candidata fez um discurso para apoiadores em que garantiu seguir na disputa. A próxima prévia, no dia 23 de fevereiro, será na Carolina do Sul, estado que Haley governou por dois mandatos, entre 2011 e 2017.
– A disputa está só no começo. E os eleitores da Carolina do Sul não querem uma coroação, e sim uma eleição – disse.
Questionada sobre os comentários de Trump, em comício no dia anterior, quando o ex-presidente sugeriu que ela provavelmente desistiria após a derrota em New Hampshire, Haley já havia sido enfática:
— Não faço o que ele me diz para fazer. Nunca fiz o que ele me diz — disse Haley, que foi escolhida por Trump para ser embaixadora dos EUA nas Nações Unidas.
Em entrevista à Fox News logo após ser declarado vitorioso, Trump sugeriu que Haley suspenda sua campanha para que o partido possa direcionar recursos para derrotar Biden, embora tenha afirmado mais cedo que “nunca pediria a alguém para desistir”. Pouco depois, quando subiu ao palco em sua festa da vitória em Nashua, no sul do estado, Trump disse estar pronto para competir contra Haley na Carolina do Sul, mas passou grande parte do discurso criticando a adversária.
— Ela se saiu muito mal, na verdade — disse Trump.
Pesquisas mostram Trump com 60% dos votos no estado sulista, contra 25% de Haley. E analistas afirmam que será um risco enorme para o futuro político da ex-governadora perder de forma inequívoca em seu estado natal.
O resultado de New Hampshire confirmou a força de Trump, de 77 anos, mesmo com seus problemas com a Justiça. Ele responde a 91 processos, um deles por alegadamente tentar alterar os resultados das eleições de 2020, vencidas por Biden.
— Saiam da cama e vão votar! — instara Trump na noite de segunda, durante um ato de campanha em Laconia, no estado do nordeste do país. — Devemos ir às urnas pois temos que vencer por ampla margem.
Os números mostram que seus aliados saíram de casa. E que Haley, uma vez mais, chegou quase perto de seu objetivo. Em Iowa, a ex-governadora almejava a segunda posição, mas chegou em terceiro lugar no estado do meio-oeste, com 19% dos votos, atrás do governador da Flórida, Ron DeSantis, que abandonou a disputa no domingo — reduzindo o que originalmente era um campo com 14 candidatos a um duelo claramente desigual.
Sinal amarelo para Trump
Apesar de mais uma vitória, a campanha de Trump esperava uma margem ainda maior sobre Haley, e o sinal amarelo acendeu especialmente com os resultados iniciais nas áreas tradicionalmente mais democratas, onde Haley vencia com margem maior do que o esperado.
Metade dos eleitores da candidata, segundo a boca de urna da Associated Press, foi de eleitores que se diziam moderados e com diploma universitário. Na boca de urna da CNN, por sua vez, 44% dos eleitores de Haley responderam não ficar nada satisfeitos com uma vitória de Trump.
O ex-presidente, em entrevista a uma rádio antes de os resultados serem divulgados, afirmara que não esperava que Haley desistisse tão cedo. Mas, acrescentou, não “vê um caminho” para ela conquistar a indicação do partido.
Questionado sobre como conseguiria que os apoiadores de Haley, que se opõem firmemente à sua candidatura, votassem nele nas eleições gerais, afirmou:
— Todos votarão em mim — acrescentando que a insatisfação com o presidente Joe Biden será decisiva.
Em New Hampshire, os eleitores votam em primárias “semiabertas”, permitindo aos não filiados aos dois partidos majoritários participarem do processo, o que geralmente beneficia candidatos mais ao centro, como é o caso de Haley.
Vinte e dois delegados estavam em disputa, e serão distribuídos proporcionalmente. Embora essa seja uma parte pequena dos 1.215 necessários para a indicação do partido, a relevância do estado no processo de indicação também se dá devido à sua posição inicial no calendário eleitoral.
Na véspera da votação em New Hampshire, Trump terminou o dia em um comício, em um resort na cidade de Laconia, ao lado de três pré-candidatos que, como DeSantis, abandonaram o jogo anteriormente para apoiá-lo: o empresário Vivek Ramaswamy, o ex-governador de Dakota do Norte Doug Burgum, e o senador Tim Scott, da mesma Carolina do Sul de Haley. Faltou o governador da Flórida, mas a foto armada pela campanha de Trump tem leitura óbvia: busca mostrar a união do Partido Republicano em torno do ex-presidente.
Pouco antes da demonstração de força, Trump compareceu a uma corte de Nova York para se defender da acusação de difamar a escritora E. Jean Carroll. Em maio, um júri o considerou culpado de abusar sexualmente da jornalista, a quem depois acusou de mentir sobre o fato. Nada, no entanto, parece diminuir seu prestígio com os eleitores republicanos.
Democratas votam em Biden
Os democratas de New Hampshire também votaram em seu candidato nesta terça-feira, desafiando uma ordem do partido nacional para realizar a primária mais tarde. Impulsionado por uma campanha de escrita de seus apoiadores, Biden saiu vitorioso do pleito (que não contribuirá para a distribuição de delegados), após se recusar a aparecer na cédula do estado devido a uma disputa sobre o cronograma eleitoral.
O resultado, anunciado pela Associated Press, foi uma boa notícia para Biden, que enfrentou uma coleção de concorrentes improváveis liderados por Dean Phillips, de Minnesota, que rotulou o presidente como “inelegível”.
Biden passou o dia fazendo campanha ao lado da vice-presidente Kamala Harris na Virgínia, em um comício pelos direitos ao aborto. Com Trump destacando seu papel no fim do direito constitucional ao aborto, Biden disse a uma plateia entusiasmada que o republicano está “determinado” a impor mais restrições.
Após o resultado em New Hampshire, a campanha de Biden afirmou que Trump praticamente assegurou a indicação. “O movimento MAGA [sigla para o slogan de Trump, “Faça a América grandiosa de novo”], que nega a eleição e é contra a liberdade, praticamente concluiu a tomada do controle do Partido Republicano”, disse a campanha em comunicado.