Segundo levantamento da Fenabrave, foram emplacados 998.270 carros, comerciais leves, caminhões e ônibus no primeiro semestre de 2023, uma alta de 8,76%. ‘Gás extra’ de programa de descontos do governo deve vigorar por pouco tempo.
As vendas de veículos novos no Brasil tiveram alta de 7,39% em junho, mostram os resultados divulgados pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) nesta terça-feira (4).
Em números absolutos, foram emplacadas 189.528 novas unidades no país, entre carros, comerciais leves, caminhões e ônibus. O g1 não contabiliza motos e implementos rodoviários.
No primeiro semestre, foram 998.270 emplacamentos. Isso representa alta de 8,76% em relação ao mesmo período de 2022.
Esse é o primeiro resultado oficial do setor depois do programa de barateamento de carros zero, um pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à sua equipe econômica. Foram liberados R$ 1,8 bilhão em incentivos para que montadoras dessem descontos em veículos novos.
O governo tenta, assim, dar um estímulo à indústria e animar o consumidor, para mover a economia. Críticos do programa denunciam o incentivo aos combustíveis fósseis e ineficácia para aquecer o setor. (saiba mais abaixo)
Carro zero com desconto
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) decidiu renovar, na semana passada, o programa do governo que barateia o carro zero. Foram liberados mais R$ 300 milhões, e aberta a permissão de compra para locadoras e outras pessoas jurídicas.
O desenho do programa agora tem a seguinte distribuição:
- R$ 800 milhões para automóveis;
- R$ 700 milhões para caminhões;
- R$ 300 milhões para vans e ônibus.
Apesar de reduzir os preços na ponta, a ação foi limitada para compensar a falta de escoamento de produção das montadoras.
Segundo estimativas da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o programa tinha potencial de atingir até 120 mil carros novos de uma produção de mais de 2 milhões neste ano. Os cálculos não foram refeitos desde a renovação do programa.
Um vídeo feito no dia 28 pelo Globocop, da TV Globo, causou repercussão ao registrar o pátio da montadora Volkswagen, em São Bernardo do Campo, com milhares de veículos à espera de serem vendidos.
O acúmulo de estoque fez a montadora promover mais uma parada de produção em suas fábricas por conta de uma “estagnação do mercado”. Em outras palavras, a empresa continua sentindo a falta de demanda por veículos novos, que causou paralisações das principais montadoras do país no início do ano.
O fenômeno é o mesmo que o g1 mostrou à época:
- os aumentos da taxa básica de juros, a Selic, feitos pelo Banco Central desde 2021, começaram a trazer consequências mais fortes para a economia.
- uma delas é, justamente, a redução do consumo por meio da dificuldade de concessão de crédito.
- o encarecimento do crédito junto com a redução do poder de compra da população reduziu o potencial de financiamento e, por consequência, a demanda por carros novos.
O excedente de produção, em tese, deveria criar novas condições para a comercialização de veículos — a famosa lei da oferta e demanda da economia —, mas analistas ouvidos pelo g1 dizem que as montadoras precisam retomar as perdas por conta do momento que viveram durante a pandemia de Covid.
Com custo de produção em alta devido aos entraves logísticos e falta de matéria-prima durante os últimos anos, as empresas precisam recuperar o “dinheiro perdido”. Ainda que as cadeias logísticas tenham melhorado em 2022, houve a guerra na Ucrânia que trouxe novos impactos em preços de commodities necessárias para a indústria.
É o caso de metais usados em semicondutores, peças responsáveis pela condução das correntes elétricas. São chips indispensáveis para a montagem de automóveis e eletroeletrônicos — que também tiveram aumento de demanda durante a pandemia.
Além disso, o mercado está em momento de alta competitividade, já que as montadoras correm contra o relógio em busca de desenvolver veículos que funcionem com novas matrizes energéticas, por exemplo. A eletrificação da linha demanda investimentos em pesquisa e eficiência, para que o produto final tenha preço competitivo dentro do mercado.
Fonte: G1